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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Terreiro de umbanda bane fumo de ritual



Terreiro de umbanda bane fumo de ritual
Templo tomou decisão mesmo sendo permitido o uso de charutos em rituais religiosos em ambientes fechados

Vinícius Queiroz Galvão



Ao menos no terreiro de umbanda Guaracy, no Jardim Ipê, zona sul de São Paulo, o santo da lei antifumo é forte. Mesmo permitido pela nova legislação, que abre exceção para templos religiosos em que o fumo ou a fumaça façam parte do ritual, os caboclos, boiadeiros, marinheiros, pretos velhos e demais entidades daquela crença aboliram o charuto, o cachimbo e a cigarrilha das rodas de jira.



A proibição, que começou na sexta-feira 7, mesmo dia em que a lei antifumo entrou em vigor em todo o Estado, diz o babalorixá Carlos Buby, 59, ele próprio um fumante desde os 14 anos, foi referendada pelos guias espirituais do templo e motivada para que o terreiro umbandista "se afinasse com a lei dos homens".



Por lá, confirmam os vizinhos, o batuque nunca passa das 22h para respeitar também a lei do silêncio. O banimento do fumo no terreiro Guaracy segue à risca a nova lei. A proibição vale para o salão fechado, de acesso público, onde ocorrem as festas e o atendimento aos filhos de santo e aos consulentes. No quintal de terra batida, ao ar livre, no sítio onde é feita boa parte das oferendas, as entidades fumam charutos livremente nos rituais.



A exceção é para Exu, que pode fumar o charuto em ambientes fechados, explica o pai de santo Buby, porque o contato com essa entidade é fechado ao público e exclusivo para os iniciados na religião umbandista.
"É nesse momento que a cabocla deveria estar fumando o charuto e está de mãos vazias", diz Ana Paula da Costa, seguidora do templo Guaracy.



"Não sabíamos como iria acontecer porque as entidades trabalham com a fumaça, mas os caboclos trazem segurança. É uma novidade. Antes, o gosto do charuto ficava até o dia seguinte, agora não sinto mais", afirma a médium Sílvia Dias, que na última quinta-feira recebia a cabocla Potira, pela primeira vez sem o rolo de fumo.



"Imagine 15 médiuns fumando charuto nesse espaço pequeno com outras 150 pessoas. A proibição não pesou em nada nos trabalhos da umbanda. Agora, as grávidas e crianças podem participar", diz o babalaô Carlos Buby.
Para o professor titular aposentado de sociologia da USP Reginaldo Prandi, autor de mais de 20 livros sobre religiões afro-brasileiras, a decisão do terreiro Guaracy é minoritária e não é representativa da umbanda em geral. Para ele, a mudança é positiva e faz parte da transformação das religiões, que antes ditavam tendências e agora são pautadas pelo comportamento coletivo.



Prandi diz que a fumaça dos charutos é uma herança indígena usada nos rituais de cura para canalizar energia e fluidos na limpeza espiritual. Agora, explica o professor aposentado da USP, os guias podem usar as mãos, como nos passes dos médiuns kardecistas. Presidente da Federação Brasileira de Umbanda, que reúne 5.325 terreiros no país, Manoel Alves de Souza diz que a abolição dos charutos no templo Guaracy após a lei antifumo "faz parte da evolução da religião".


http://www.leiantifumo.sp.gov.br/sis/lenoticia.php?id=113


Fonte: Jornal Folha de S.Paulo

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