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sábado, 14 de novembro de 2015

Sensibilidade e compaixão



Por – Lucy Dias Ramos



Minha sensibilidade aflora quando contemplo o novo amanhecer, embora as nuvens densas não me permitam ver o sol despontando na montanha, mas sua luminosidade abençoa a Terra, evidenciando mais um dia no calendário da vida…

No inverno, já nos acostumamos a aguardar o despertar da Natureza que retarda um pouco mais em sua demonstração de luzes e cores, trazendo para nossa alma o doce enlevo de que estamos inseridos nesta metamorfose natural.

O Perispírito1Somos parte deste Universo e essa interdependência que todos os seres vivos têm com a Natureza é percebida pelos que se colocam em  observações mais intensas na busca do conhecimento.

Não é um privilégio constatar essa verdade, basta analisar como reagimos diante do tempo, das mudanças normais dos ciclos e estações, das intempéries, das benesses de um dia de sol, da generosidade da chuva que refresca a terra ressequida pelo excesso de calor e sentiremos que fazemos, realmente, parte da Natureza…

É o nosso habitat, nosso lar, nossa morada e desde nossa criação interagimos com o meio ambiente…

Essas reflexões resultam da observação de mais um dia neste alvorecer e como pretendo conversar com você, querido leitor, sobre sensibilidade introduzi esse assunto com essas ponderações.

Nossa alma exercita através de tudo o que nos chama a atenção ou desperta nossa compaixão para o sentimento enobrecido da piedade que antecede a sublimação do amor através da caridade quando nos dispomos a ajudar nosso próximo.

Quase não se usa mais o termo piedade… Mas habitualmente desejamos muito que os outros se apiedem de nós e muitas vezes em preces contritas formulamos de forma impulsiva rogativas a Deus para que se apiede de nós…

No Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIII, item 17 nas Instruções dos Espíritos, Kardec inseriu uma mensagem do Espírito Miguel (Bordéus, 1862) na qual percebemos a delicadeza com que é descrita essa virtude. Ele a inicia dizendo que:



“A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos; é a irmã da caridade, que vos conduz a Deus. Ah! Deixai que o vosso coração se enterneça ante o espetáculo das misérias e dos sofrimentos dos vossos semelhantes. Vossas lágrimas são um bálsamo que lhes derramais nas feridas e, quando por bondosa simpatia chegais a lhes proporcionar a esperança e a resignação, que encanto não experimentais!”[1]



Quando, realmente, somos tocados pelo sentimento de amor ao próximo, a ternura e a bondade conduzirão nossos gestos no atendimento ao que padece as dores da alma e carece de recursos materiais para sobreviver com dignidade.

Ao contrário, o egoísmo e o orgulho distanciam o ser humano deste despertar para a necessidade do outro, esquecidos de que ninguém poderá viver somente em função de seus desejos pessoais e objetivos materiais, sem a mínima preocupação com os que sofrem privações morais e físicas.

Esta mensagem chama nossa atenção para a felicidade que a alma sente quando se deixa levar pelo sentimento nobre da piedade e transcrevo o que o nobre Espírito descreve:



“Envolve-o penetrante suavidade que enche de júbilo a alma. A piedade, a piedade bem sentida é amor; amor é devotamento; devotamento é o olvido de si mesmo e esse olvido, essa abnegação em favor dos desgraçados, é a virtude por excelência, a que em toda a sua vida praticou o divino Messias e ensinou na sua doutrina tão santa e tão sublime.”[2]



A busca do prazer e o esquecimento dos deveres morais para com o próximo, depois de alcançados os anseios egoístas e estritamente materiais, deixam na alma humana um vazio que se transforma em tédio e desencanto.

Alguns indivíduos descuidados com seus deveres para com a comunidade na qual vivem, mostram-se indiferentes às dores alheias e se preservam de qualquer tipo de preocupação com os apelos que lhes chegam para ajudar aos que padecem privações.

A indiferença moral diante do infortúnio alheio é característica de pessoas egoístas e orgulhosas que, ainda, desconhecem o valor da caridade, os benefícios do amor em suas vidas e, principalmente, não cogitam das coisas espirituais porque ignoram ou se colocam indiferentes a esses assuntos desagradáveis que poderiam ofuscar sua felicidade irreal e transitória.

A indiferença quando gera complexo de culpa é danosa ao psiquismo humano, porque traz o desequilíbrio da emoção e frustra a alma dos sentimentos enobrecidos que a fariam viver em clima de paz e plenitude.

familiaCada um de nós faz a diferença quando nos propomos a agir com altruísmo e bondade, quando decidimos que a fraternidade real somente acontecerá se nos dispusermos a amar e compreender o irmão do caminho…

A começar por nós mesmos, amando-nos e aceitando-nos com nossas limitações para entender o próximo em suas dificuldades e equívocos, em suas necessidades e carências.

Quando estamos bem interiormente, aceitando-nos e sendo compassivos para conosco, mais facilmente compreenderemos o outro e seremos capazes de termos compaixão e piedade para com ele.

Iniciaremos com gestos mais simples de simpatia, uma palavra de bondade, um toque de carinho, a mão estendida, o abraço afetuoso e compreensivo, o diálogo esclarecedor e fraterno…

São atitudes de bondade, demonstrando que estamos tentando ampliar o sentimento de amor ao que nos procura necessitado de compreensão e apoio.

Na reciprocidade da vida, quando damos amor é certo que ele voltará para nós em doses que nos surpreenderão, como benesses em momentos de necessidades e carências…

Sêneca já dizia no Século I AC, que onde quer que haja um ser humano, há uma oportunidade para o bem.

         Os nossos irmãos budistas colocam a bondade e o amor ao próximo como a religião de todos os que desejam conquistar a paz.

Jesus Cristo, nosso Mestre, coloca o amor como a base de Sua Doutrina, ensinando-nos o caminho da verdade e da vida.

Voltando a falar em sensibilidade que foi o que chamou minha atenção para este assunto, desejo enfatizar a necessidade de nos motivarmos mais e prestarmos mais atenção às necessidades do próximo, procurando externar em gestos de bondade e compreensão o sentimento nobre da piedade que nos leva a ter compaixão pelo que sofre e necessita de ajuda.

E percebo, agora, através da janela diante de mim que a Natureza já se abre em luzes e cores para enfeitar essa manhã e repasso o pensamento nobre de Thich N. Hahn, pacifista e monge budista que viveu no século XX, prometendo a mim mesma ter a mesma atitude:



“Sorrio ao acordar esta manhã. Vinte e quatro horas novinhas estão diante de mim. Prometo vivê-las plenamente em cada momento e olhar com compaixão para todos os seres.” [3]



         Desejo, sinceramente, que você faça o mesmo!

Espíritas pela Segunda Vez



O número dos reencarnados detentores de conhecimento anterior do Espiritismo aumenta e aumentará a cada dia.
Quanto mais a individualidade consciente mentalize o Mundo Espiritual numa vida física, mais facilidades obtém para lembrar-se dele em outra.
A militança doutrinária, o exercício da mediunidade ou a responsabilidade espírita vincam a alma de profundas e claras percepções que transpõem a força amortecedora da carne.
Os princípios espíritas, a pouco e pouco, automatiizar-se-ão no cosmo da mente, através de reflexos morais condicionados pela criatura, assentados no sentimento intuitivo da existência de Deus e no pressentimento da sobrevivência após a morte que todos carregam no imo do ser.
Daí nasce o valor inapreciável da leitura, da meditação e da troca de idéias sobre as verdades que o Espiritismo encerra e a sua conseqüente realização no dia-dia terrestre.
Estudar e exercer as obrigações de caráter espírita é construir para sempre, armazenar para o futuro, libertar-se de instintos e paixões inferiores, rasgar e ampliar horizontes e perspectivas que enriqueçam as idéias inatas, destinadas a se desdobrarem quais roteiros de luz, na época da meninice e da puberdade, nas existências próximas.
A maior prova da eternidade do Espiritismo, nos caminhos humanos, é essa consolidação de seus postulados na consciência, de vida em vida, de século em século, esculpindo a memória, marcando a visão, desentranhando a emotividade, sulcando a inteligência e plasmando idéias superiores nos recessos do espirito.
A Terra recepciona atualmente a quinta geração de profitentes do Espiritismo, composta de número maior de criaturas que receberão a responsabilidade espírita pela segunda vez. Esse evento, de suma importância na Espiritualidade, reclama vigilante dedicação dos pais, mais viva perseverança dos médiuns, mais acentuada abnegação dos evangelizadores da infância, maior compreensão de todos.
Um exemplo de alguém, uma página isolada, um livro que se dá, um fato esclarecedor, uma opinião persuasiva, uma contribuição espontânea, erigir-se-ão, muita vez, por recurso mais ativo na excitação dessas mentes para a verdade, catalisando-lhes as reações de reminiscências adormecidas, que ressoarão à guisa de clarins na acústica da alma.
Amigo, o Espiritismo é a nossa Causa Comum. Auxilia os novos-velhos mergulhadores da carne, divide com eles os valores espirituais que possuis. Oferece-lhes a certeza de tua convicção, a alegria de tua esperança, a caridade de tua ação.
Se eles descem à tua procura, é indispensável recordes que esses companheiros reencarnantes contigo e o teu coração junto deles "serão conhecidos", na Vida Maior,"por muito se amarem".
CARLOS LOMBA – do livro Seareiros de Volta