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sexta-feira, 25 de junho de 2021

Anotações sobre o livre arbítrio na obra "Ação e Reação" de André Luiz I

 



– Generoso amigo, poderíamos ouvi-lo, de alguma sorte, quanto aos sinais cármicos que trazemos em nós mesmos?

Sânzio refletiu alguns momentos e ponderou: 

– É muito difícil penetrar o sentido das Leis Divinas, com os recursos limitados da palavra humana. Ainda assim, iniciemos o tentame, recorrendo a imagens tão simples quanto seja possível.

Apesar da impropriedade, comparemos a esfera humana ao reino vegetal. Cada planta produz na época própria, segundo a espécie a que se ajusta, e cada alma estabelece para si mesma as circunstâncias

felizes ou infelizes em que se encontra, conforme as ações que pratica, através de seus sentimentos, idéias e decisões na peregrinação evolutiva. A planta, de começo, jaz encerrada no embrião, e o destino, ao princípio de cada nova existência, está guardado na mente. Com o tempo, a planta germina, desenvolve-se, floresce e frutifica e, também  com o tempo, a alma desabrocha

ao sol da eternidade, cresce em conhecimento e virtude, floresce em beleza e entendimento e frutifica em amor e sabedoria. A planta, porém, é uma crisálida de consciência, que dorme largos

milênios, rigidamente presa aos princípios da genética vulgar que lhe impõe os caracteres dos antepassados, e a alma humana é uma consciência formada, retratando em si as leis que governam a vida e, por isso, já dispõe, até certo ponto, de faculdades com que influir na genética, modificando-lhe a estrutura, porque a consciência responsável herda sempre de si mesma, ajustada às consciências

que lhe são afins. Nossa mente guarda consigo, em germe, os acontecimentos agradáveis ou desagradáveis que a surpreenderão amanhã, assim como a pevide minúscula encerra potencialmente

a planta produtiva em que se transformará no futuro.

Nessa altura, Hilário perguntou, inquieto:

– Não teremos, nesse postulado, a consagração do determinismo de ordem absoluta? Se trazemos hoje, no campo mental, tudo aquilo que nos sucederá amanhã..

Sânzio, contudo, esclareceu, complacente:

– Sim, nas esferas primárias da evolução, o determinismo pode ser considerado irresistível. E o mineral obedecendo a leis invariáveis de coesão e o vegetal respondendo, fiel, aos princípios organogênicos, mas, na consciência humana, a razão e a vontade, o conhecimento e o discernimento entram em função  nas forças do destino, conferindo ao Espírito as responsabilidades naturais que deve possuir sobre si mesmo. Por isso, embora nos reconheçamos subordinados aos efeitos de nossas próprias ações, não

podemos ignorar que o comportamento de cada um de nós, dentro desse determinismo relativo, decorrente de nossa própria conduta, pode significar liberação abreviada ou cativeiro maior, agravo ou

melhoria em nossa condição de almas endividadas perante a Lei.

– Mas, ainda mesmo nas piores posições expiatórias – inquiri 

–, goza a consciência dos direitos inerentes ao livre arbítrio?

– Como não? – falou o Ministro, generoso – imaginemos um delinqüente monstruoso, segregado na penitenciária. 


 Acusado de vários crimes, permanece privado de toda e qualquer liberdade na enxovia comum. Ainda assim, na hipótese de aproveitar o tempo no cárcere, para servir espontaneamente à ordem e ao bem-estar das autoridades e dos companheiros, acatando com humildade e respeito as disposições da lei que o corrige, atitude essa que resulta de seu livre arbítrio para ajudar ou desajudar a si mesmo, a breve tempo esse prisioneiro começa por atrair a simpatia daqueles que o cercam, avançando com segurança para a recuperação de si mesmo. (...)


Ministro Sânzio em Ação e Reação de André Luiz