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domingo, 29 de julho de 2012

Muktah Mai - Desonrada injustamente



Clara, reflexões sobre o livro Desonrada, em 27.02.2011

Terminei de ler o livro Desonrada. Ainda estou em choque. Seja pelo acoplamento à história verídica, seja pela indignação ante à ilimitada degradação humana. Mukhtar Mai, sofreu estupro coletivo, aprovado pela Jirga (conselho tribal) de sua aldeia. O motivo: seu irmão, de apenas 12 anos de idade teria dirigido a palavra a uma mulher de 27 anos, de uma casta superior à sua. O garoto também foi espancado e sodomizado. Mas por seu crime de honra, sua irmã, Muktah foi condenada a sofrer o estupro coletivo.
 O prefácio de Miriam Leitão resume o drama e o livro discorre o caso, a coragem, o enfrentamento de uma mulher simples, analfabeta, contra todo um sistema social-cultural-religioso patológico.

Uma outra paquistanesa, casada, mãe de uma menina de dois anos, grávida de um bebê de dois meses, foi sequestrada sob as vistas de seu marido rendido por um revolver na cabeça. Motivo: ele recusou-se a continuar recebendo certo vizinho que vinha frequentemente ter refeições em sua casa. A vingança, em sua esposa, prática comum é vingar-se na mulher, durou dois meses em que esta ficou presa em uma cela, servida de água e comida como a um cão, sendo diariamente violada por diferentes homens que vinham servir-se dela. Todos os criminosos permanecem impunes, até a data de publicação do livro, em 2005.

Receio buscar fontes recentes quanto ao desfecho do caso de Muktah Mai, e mesmo que tenha sido feita justiça, é uma entre milhares de casos. No Paquistão, como em vários outros países, a mulher vale menos que uma cabra. Não tem direito à escolhas, opinião, nem sequer de voz. Frequentemente, vítimas de toda sorte de violência – psicológica, estupro, espancamento, ácido, morte. A evolução caminha lentamente.

Em outros países, poderíamos culpar o país, a cultura e/ou a religião. Mas a verdade é que somente os níveis subumanos de consciência explicam as atrocidades cometidas contra as mulheres, neste caso, bem documentadas, no Paquistão.

Como tudo o que critico, esforço-me para identificar como posso colaborar para a causa feminista, para acabar com a violência contra as mulheres – no Paquistão, ao redor do mundo, no Brasil, na minha cidade, no meu meio... A única coisa que me ocorre neste momento, contudo, é alertar os que estiverem ao meu alcance quanto a esta realidade, que façamos uma corrente, esclarecendo a gravidade da questão, que não deixemos ninguém calar, e, no mínimo, educar os meus filhos. Lembrando que não importa a dimensão, pequena ou grande, nem o tipo – físico ou psicológico, da violência. Não deve haver espaço para nenhum tipo de violência. Por isso encaminho esta mensagem com o pedido de que divulguem a todos esta causa, para que todos possam refletir e estar atentos a como contribuir para superar a violência contra as mulheres. Se alguém tiver uma boa ideia, conte comigo.
artigo 
Clara Elise Vieira

Extraído de http://claressencia.blogspot.com.br/2012_02_01_archive.html 


Adendos:


ESTELA WILLEMAN POSTOU EM SEU SITE, TRADUZIDO DO “NEW YORK TIMES” (TRECHO): 
 “Enquanto membros da tribo dançavam alegremente, vários homens arrancaram a sua roupa e se revezaram em estuprá-la por decisão de um ‘Conselho de Sábios Religiosos’, para se vingar do irmão da vítima. Depois, eles a obrigaram a andar nua em frente aos moradores da aldeia. Na sociedade muçulmana conservadora do Paquistão, o dever da vítima era bem claro: depois disso, ela deveria se suicidar.” 
—————————————-

O resgate da honra.  
Ronaldo Soares
“Às vezes, basta que dois homens entrem em disputa por um problema qualquer para que um deles se vingue na mulher do outro.
Nas aldeias, é muito comum que os próprios homens façam justiça, invocando o princípio do ‘olho por olho’.
O motivo é sempre uma questão de honra, e tudo é permitido a eles. Cortar o nariz de uma esposa, queimar uma irmã, violar a mulher do vizinho.” 
A paquistanesa Mukhtar Mai apertou seu exemplar do Corão contra o peito quando ouviu, na presença de mais de 100 homens, a sentença que o conselho de sua aldeia acabara de lhe impor: um estupro coletivo.
Integrante de uma casta inferior, Mukhtar fora até lá apenas para pedir clemência para o irmão mais jovem. Era ele o réu no julgamento. Estava prestes a ser condenado à morte por ter se envolvido com uma mulher de um clã superior, fato nunca inteiramente esclarecido. O líder tribal – que era o chefe do tal clã – ignorou o pedido de Mukhtar, então com 28 anos, e ordenou a punição. Ela foi imediatamente arrastada por quatro homens armados, como “uma cabra que vai ser abatida”, segundo sua própria descrição. Eles a agarraram pelos braços e puxaram suas roupas, o xale e o cabelo. Indiferentes a seus gritos e súplicas, levaram-na para dentro de um estábulo vazio e, no chão de terra batida, violentaram-na, um após o outro.

“Não sei quanto tempo durou essa tortura infame, uma hora ou uma noite. Jamais esquecerei o rosto desses animais”, conta a paquistanesa. 

Mais do que o desfecho de uma querela tribal, o livro narra como Mukhtar transformou sua tragédia pessoal em uma causa: a defesa dos direitos das mulheres em seu país. E, com isso, tornou-se um símbolo da luta das mulheres no mundo islâmico. 

Nos três dias seguintes ao estupro, permaneceu trancada em seu quarto. Não conseguia comer nem falar. Como normalmente ocorre com as mulheres vítimas de violência sexual em seu país, pensou em suicidar-se. 

__ “Até hoje eu sinto a dor, mas aprendi a mitigar esse sofrimento”, disse Mukhtar a VEJA. “O que me conforta é que abri uma escola para meninas. Quando vejo as alunas estudando e brincando, eu me sinto honrada, é isso que atenua a minha dor.” 

A camponesa pobre e analfabeta, nascida Mukhtaran Bibi, virou uma ativista conhecida mundo afora pelo codinome Mukhtar Mai, que significa “grande irmã respeitada” em urdu, o idioma oficial de seu país. Seu livro, publicado no ano passado, é o terceiro na lista dos mais vendidos na França. Nele, conta como se deu essa transformação. Narra sua luta por justiça e relata as barbaridades cometidas contra mulheres em seu país. 

A tragédia de Mukhtar teria virado apenas mais um episódio sem conseqüências na longa história de violações dos direitos humanos no Paquistão. O que mudou seu destino foi uma reportagem, publicada em um jornal da região, contando sua história. A notícia correu mundo, e as autoridades locais se viram forçadas a agir. A polícia a procurou em casa. E ela, numa atitude corajosa, não recuou diante da oportunidade de denunciar seus agressores. Foram levados a julgamento os quatro estupradores e outros dez responsáveis pela sentença ilegal. Embora comum no cotidiano das pequenas aldeias paquistanesas, esse tipo de violência é crime segundo as leis do país. Uma decisão de segunda instância absolveu cinco dos acusados. Mukhtar recorreu, e atualmente o caso tramita na Suprema Corte do Paquistão. A batalha judicial lhe rendeu ameaças de morte e custou a vida de um primo, assassinado pelo clã inimigo. 
Mukhtar não desafiou apenas o poder local em Meerwala, um vilarejo de agricultores distante 600 quilômetros da capital do Paquistão, Islamabad, onde quase não há comércio e que só recentemente passou a ter energia elétrica. Ela iniciou um movimento que contesta a condição feminina em seu país e questiona hábitos ancestrais como a jirga, conselho tribal que a condenou ao estupro.
Em alegações de desonra, a solução encontrada muitas vezes é impor vergonha à família, por meio de suas mulheres.

COmentários da bloguista de assassinados por homens:


Como diz Rania Al-Baz (que entendeu isso da maneira mais dura), espancada até quase a morte pelo “marido”, um músico frustrado que ela sustentava, “homem não pode existir sem controle”. Não pode também deter nenhuma forma de poder porque tende a destruir tudo o que toca em função de seus limites Naturais. Homem é um macho inferior, por isso não pode se auto-afirmar senão em detrimento dos outros. Na Natureza, quando uma Fêmea se auto-afirma, é sempre ou pela sobrevivência ou em detrimento de si mesma pela sobrevivência do mais fraco. Homens, pequenos como são, não abusam senão dos que lhes “parecem” mais fracos… Acharam que Mukhtar era uma dessas, mas quebraram a cara. Quebrariam com todas se todas percebessem do que os homens tem inveja.

Apesar de analfabeta, Mai tinha uma mente e memória privilegiadas e uma vocação Natural para a educação. Antes do horror dos estupros, ela ensinada voluntariamente bordado as mulheres e o Corão as crianças, que aprendera ouvindo! Em seu entendimento, ela concluiu que escolas na região, voltadas exclusivamente para MENINAS poderiam mudar alguma coisa daquela passividade diante da selvageria contra elas. A escola criada para meninos foi sem duvida nenhuma fruto de coerção contra ela, num País onde quem manda são os homens e tudo gira em torno das necessidades pequenas e doentias deles.









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