Total de visualizações de página

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O CONDICIONAMENTO



O CONDICIONAMENTO

A maior de todas as prisões humanas, nunca foi construída com materiais perecíveis, como tijolo, areia, cimento, madeira e ferro. Não tem ao seu dispor, nenhum esquema sofisticado de vigilância externa, mas as suas celas vivem abarrotadas de presos que deliberadamente se impõem penas que, na maioria das vezes, duram toda uma existência. Penas perpétuas, em regime de reclusão conflitante, choques, revoltas, guerras e desequilíbrios.

Por mais incrível que possa parecer, os próprios presos defendem as suas celas, grades e regime de reclusão, com todo ardor de suas almas e com toda força de suas convicções e se alguém tenta abrir-lhes as portas, lutam desesperadamente para não saírem, condenando e evitando todo e qualquer esforço de liberdade pessoal ou coletiva.

Vez por outra, surgem espíritos destemidos, homens de escol, que gritam, falam, exemplificam, tentando acordar os presos voluntários, mas as suas vidas e ensinos, contrariamente ao que se poderia esperar, fortalecem as correntes, eclodindo novas confusões e ampliando as muralhas que os mantêm cativos.

Este grande complexo penitenciário, esta prisão voluntária, tão comum aos seres humanos, nasce no fluxo incessante de nossos pensamentos, vontades, emoções, palavras, hábitos e atos e atende pelo nome de CONDICIONAMENTO.

Condicionamento, que nos faz perder o senso de liberdade, a bem-aventurança, a paz interior, a visão de totalidade, que cria e nutre padrões rígidos, que é a gênese de todas as divisões, disputas, conflitos, inquisições, guerras e anátemas.

Condicionamento que cria as autoridades, os doutores, os ídolos, os gurus, os seguidores, que inadvertidamente exaltam os seus “mestres”, percorrendo “caminhos” e “verdades” em ciclos intermináveis de dependência, lutas e frustrações.

Condicionamento que nos leva à imitação, ao viver da memória e das repetições vazias de conceitos e revelações menores sem que as possíveis realidades que mencionamos sejam conquistas experienciadas no silêncio pródigo, fecundo e criativo de nossa vida interior.

Condicionamento que nos faz nacionalistas, moralistas, cientistas, filósofos, teólogos, católicos, protestantes, espíritas, budistas, materialistas, em busca permanente de certezas absolutas, supremacia, conquista de prosélitos e condenação daqueles que teimam em seguir outros caminhos, outras vertentes, contrários aos nossos passos e verdades, nossas crenças e certezas.

Condicionamento que condena o passado, as mudanças do presente e busca impedir o fluxo de transformação incessante do futuro, que tenta a todo custo, calar a voz da natureza, quando ela se distancia de nossos enunciados e teorias.

Condicionamento que faz o novo tornar-se velho, a descoberta um enfado, o numinoso uma rotina escravizante, a vida uma coleção de dores, a dor uma violência, e a violência um modo de ser e de construir uma sociedade.

Condicionamento que chama de educação, padrões de contenção, de religião um conjunto de ritos, interpretações e disciplinas, de razão, toda e qualquer negação, de filosofia, a moda do momento, e de ciência, os conceitos estreitos aceitos pela ortodoxia dominante.

Condicionamento que nos condiciona até quando dele falamos ou tentamos romper as suas amarras. Conhecer essa realidade, não nos faz livres, não obstante, pode despertar em nós a ânsia de integração, de unidade, que nos leve à redescoberta da nossa totalidade, que nos conecte novamente ao centro imperecível de nós mesmos. Nesse desiderato, quem sabe, não venhamos a perceber que todo o conhecimento que retemos é extremamente relativo e distorcido, mas que pode ser usado como um diminuto anzol que fisgue a verdade infinita e inominável que existe além de nossas próprias muralhas. A partir desse pequeno passo, rasgando a ponta do véu que nos enceguece, talvez venha a surgir em nós a chama da transformação, que nos leve a abrir as celas onde nos acostumamos a viver, rompendo as grades e algemas que nos condicionam.

Com o objetivo primordial de interagir, dinamizar, integrar, fraternizar, ajudar e ser ajudado, facilitar e receber auxílio, nessas ações titânicas, individuais e intransferíveis, de percepção, de mudança, de despertar, de retorno à fonte primeva é que nasceu o INSTITUTO BRASILEIRO DE BENEMERÊNCIA E INTEGRAÇÃO DO SER – IBBIS. Uma instituição que objetiva a simplicidade, o estudo, a doação espontânea em regime de troca de experiências, a comunhão amiga, a fraternidade operosa, que se distancia de qualquer liderança ou supremacia, prevalência ou determinação de rotas ou mesmo a presunção de deter a verdade, mas que quer contribuir no sentido de facilitar o acesso à síntese das inúmeras sendas, sejam as passadas, as contemporâneas ou as futuras, somando, evitando a divisão, multiplicando, gerando novas sementes, tanto quanto possível híbridas, porque a relatividade do nosso saber seja ele religioso ou filosófico ou científico é fato, que nem mesmo as mentes mais radicais conseguem negar na atualidade.

Por trás da neblina de nossas aparentes divisões existe como bem afirmou Leibniz e demonstrou Aldous Huxley uma FILOSOFIA PERENE, um tecido de unidade, que o pensamento humano derivou em um labirinto, onde os pontos de aproximação, semelhança e contato foram substituídos pela aparente divisão e o eterno imperialismo de afirmação egóica, de superioridade e primazia de um conhecimento em detrimento de outro.

Diz-nos Huxley: “A melhor coisa que pode fazer, no campo da metafísica, quem não é sábio, nem santo, é estudar as obras dos que o foram, e que, por haverem modificado o seu modo de ser meramente humano, foram capazes de uma qualidade e de uma soma de conhecimento mais do que meramente humanos.”

Encontrar essa soma de conhecimento, pela via da autotranscendência, pelo estudo continuado e auxílio recíproco, escolhendo a melhor parte, das antigas tradições e dos modernos conceitos das múltiplas áreas do saber é uma das principais razões de existir da nossa instituição. Ir além do meramente humano.

Não almejamos, porém, agrupar conhecimento à semelhança de uma velha colcha de retalhos, dizendo o que é certo e errado, definindo certezas ou inquietando-nos com as inúmeras incertezas, mas queremos velejar por um oceano infinito, iniciando pelos riachos que conhecemos ou que temos acesso, examinando, experenciando e edificando juntos, aprendendo e desaprendendo, sofrendo mutações a cada etapa, em um movimento permanente, pleno, sutil. UMA GRANDE SÍNTESE, uma jornada interior, uma viagem para as margens inexploradas de nossa consciência, conhecendo não teoricamente, mas intimamente, fugindo da superficialidade, da artificialidade, em um movimento centrípeto, procurando compreender a vida e a nós mesmos, despertando as vias intuitivas e seguindo, sem receios, as suas seguras diretrizes. Quem sabe assim acordar e juntos, silenciosamente, despertarmos outros, até que, pela soma dos esforços conjuntos, uma Nova Civilização, uma nova Humanidade, a Civilização do Espírito nasça e os complexos penitenciários do condicionamento milenar e suas infelizes conseqüências sejam definitivamente abandonados.

Uma mudança, uma revolução no agora, uma conquista, uma imensa sensação de liberdade, um descobrir-se:

“Nossos inúmeros problemas só serão compreendidos e solucionados, quando estivermos cônscios de nós mesmos como um processo total, isto é, ao compreendermos toda a nossa estrutura psíquica; nenhum guia político ou religioso pode dar-nos a chave dessa compreensão.” (A Educação e o Significado da Vida, Krishnamurti, p.53).

Estudar e buscar conhecer a totalidade de nossa estrutura psíquica, por nós mesmos, é a pedra angular dos objetivos mais nobres de nosso instituto. Oferecer uma Síntese Orgânica, a concepção de uma verdade ampla, pela unificação das verdades relativas e particulares, em um processo intuitivo, dinâmico, prático, uma soma de todas as tentativas de descortinar dimensões conscienciais superiores que dormitam em nossa intimidade, para que os de boa-vontade e os que sentem as mesmas necessidades de sair do meramente humano, possam encontrar, cada qual, a sua própria chave e daí em diante transformar-se e visar transformar o planeta em uma nova morada, um paraíso, eliminando, a partir de nós, todas as dissonâncias, fazendo com que o maravilhoso e sublime tenham vida e morada na intimidade do nosso ser.


Compreendendo com Pietro Ubaldi que para conhecer o problema do conhecimento é necessário atingir a universalidade do Eu, e, que é chegada à hora de despertar à luz de uma consciência maior, para que através do amor se realize o mistério da unificação. Desde já e definitivamente declaramos que empregaremos, até o limite de nossas forças, para esse mister e para desenvolver e alcançar todos os nossos objetivos, somente as armas da generosidade, da bondade, do amor, do sacrifício, se necessário for, e tanto quanto possível da retidão, dentro dos princípios gerais da Luz, Verdade, Fé, Harmonia, Fraternidade, Justiça, Graça, Benevolência, Honestidade, Paz, Esperança, Trabalho e Humildade.


extraído de: http://www.ibbis.org/site/ibbis/condicionamento/condicionamento_pag1.htm

Nenhum comentário: