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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A COMPETIÇÃO OCUPA O ESPAÇO DO AMOR



Roberto T. Shinyashiki

Durante a infância, a maior parte das crianças se habitua a viver ouvindo dos pais mensagens como: "Você não é importante", "Lugar de mulher é na cozinha" etc. As situações de desvalorização, gravadas há muito tempo, geram nas pessoas o sentimento de que os parceiros as ameaçam quando elas mostram o seu valor.

Existem dois tipos de competição: um, que a maioria das pessoas conhece, caracteriza-se pela lutar por ser o melhor. O outro é o esforço para ser o pior - quando duas ou mais pessoas competem, procurando provar quem tem maiores problemas ou quem sofre mais.

Isso acontece, por exemplo, quando alguém telefona para uma pessoa amiga a fim de expor seus problemas, mas ela os desqualifica, mostrando que suas dificuldades são bem maiores.

Em qualquer tipo de competição, o que existe é a desvalorização da capacidade do outro.

Quando alguém compete, perde de vista seus objetivos, como no caso do homem que fica desqualificando a mulher, esquecendo-se de que ele a escolheu para viverem juntos, em harmonia.

É comum observar que há mais interesse em saber o que a outra pessoa está fazendo, para superá-la, do que nas próprias capacidades e possibilidades de ação.

A vontade de sobrepujar o outro é impulsionada por um desejo de vingança, que pode ter se estabelecido há muito tempo em uma relação dolorosa. E o mais grave é que esse sentimento acaba se generalizando.

De uma forma não consciente, o homem e a mulher procuram vingar-se , em nome do passado, em todas as mulheres e homens que porventura, venham a encontrar.

É óbvio que, em tal relacionamento, o amor não pode fluir. A palavra amor - o sentimento nesse caso não existe - é usada como arma para neutralizar, irritar e manipular o outro.

E esse falso amor acaba por obstruir a vida do parceiro, criando-lhe problemas, desestimulando-o e impedindo-o de crescer ou até mesmo de divertir-se.

A inveja nasce da incapacidade de admirar, nos outros, o que eles têm ou conseguem.
A partir dessa incapacidade, começam-se a negar as virtudes dos outros ou a desvalorizá-las. E, sempre que alguém cria uma situação de desvalorização do outro, está preparando uma oportunidade para ele se vingar.

Porque ninguém aceita passivamente uma humilhação! A pessoa até pode se comportar com passividade, mas, quando surgir uma oportunidade, irá manifestar seus ressentimentos. Imagine uma situação, não rara, desse tipo:

O marido marca um jantar com pessoas de sua firma, sem consultar a esposa. Ela fica muito irritada por não ter sido consultada, mas não diz nada e, no dia do jantar, como revide, atrasa-se muito. Ele se sente profundamente aborrecido com o fato e decide: "Já que ela está me provocando com esse atraso, eu vou ignorá-la no jantar".

A mulher, sentindo-se desprezada pelo marido durante a noite, decide se embriagar. Ele fica com raiva por sua mulher estar dando tal vexame e retira-se com ela, esbravejando o tempo todo até chegar em casa.

Tais grosserias aumentam o sentimento de insatisfação da mulher, que continua a beber. Ao mesmo tempo, ele se desespera mais, passa a gritar e vai ficando mais tenso. Decide fazer sexo para relaxar e praticamente a obriga a manter relações sexuais com ele.

Ao se sentir ainda mais desrespeitada, e como forma de vingança, ela insinua que ele é incompetente sexualmente e que, com ele, não sente o menor prazer. A situação vai se agravando e cada um vai acumulando razões para vingança. E acabam esquecendo que o motivo básico pelo qual estão vivendo juntos é criar uma situação de harmonia e crescimento.

Infelizmente, muitos casais, logo após um período de cooperação, assumem uma postura destrutiva, um em relação ao outro, onde se desvalorizam quase diariamente. Esquecem que, cada vez que despreza o outro, no fundo está desprezando a si mesmo.

A melhor maneira de acabar com o sentimento de inveja e vingança é reconhecer, com coragem, o que o outro tem de bom e anunciar isso tanto quanto puder.

O elogio verdadeiro e a capacidade de admirar o parceiro tendem a apagar os resíduos do passado e ajudam a tomar consciência de que a realidade de hoje é completamente diferente da situação vivida no passado.

Isso depende apenas de treinamento! Treinar encontrar qualidades no companheiro, e elogiá-lo, nos leva ao aprendizado de que todo ser humano tem virtudes e valores dignos de ser notados.

Essa vingança de que falamos pode manifestar-se das mais diversas formas possíveis. Pode acontecer numa relação em que um ama e o outro não, ou na qual a intensidade e a extensão do amor são muito diferentes em cada um.

Caso não exista o sentimento de vingança em um dos parceiros, essa relação poderá compensar-se e equilibrar-se. Mas também é possível que seja rompida por parte daquele que não se envolveu afetivamente. E é honesto e louvável, quando se rompe uma relação desse tipo.

Quando existe uma determinação de vingança escondida, lá no fundo, mesmo que um dos parceiros se entregue de verdade ao amor, o outro, o "vingativo", estará visando à aventura, ao oportunismo, ao prestígio, mesmo que, inconscientemente, talvez busque a confirmação de uma afirmação que lhe foi colocada na infância, como verdade absoluta, do tipo: "Todo homem é um aproveitador".

Neste caso, a dinâmica e o movimento dos dois são completamente diferentes: a pessoa que ama dirige todo o seu amor para o outro, que apenas finge amar. Essa situação não se sustenta por muito tempo. Quando a pessoa que ama percebe que estava sendo enganada, sofre muito. Esse sofrimento é fruto do desejo de vingança que o outro havia guardado no passado.

A vingança, em muitos casos, provém da inveja. Na maioria das vezes, inveja-se aquilo que não se tem: coisas, sentimentos, posturas ou pessoas junto das quais se desejaria estar. E, em geral, não se toma consciência disso. Não se faz a ligação de cada manifestação de inveja com o desejo mais profundo de ter algo ou de ser tornar igual a alguém.

Quando eu olho para você,
Não consigo deixar de sentir
Um gosto mofado de passado...
Momentos já vividos, que eu procuro esquecer.

Sensações antigas, que contaminam o sabor
do novo, de você e do nosso amor.

Texto do Livro:
"Amar pode dar certo"
Roberto T. Shinyashiki
Editora Gente

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