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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Ser Feliz
A DEPENDÊNCIA AFETIVA É UM VÍCIO
A DEPENDÊNCIA AFETIVA É UM VÍCIO
Walter Riso
Depender da pessoa que se ama é uma maneira de se enterrar em vida, um ato de automutilação psicológica em que o amor próprio, o auto-respeito e a nossa essência são oferecidos e presenteados irracionalmente. Quando a dependência está presente, entregar-se, mais do que um ato de carinho desinteressado
e generoso, é uma forma de capitulação, uma rendição conduzida pelo medo com a finalidade de preservar as coisas boas que a relação oferece. Sob o disfarce de amor romântico, a pessoa dependente afetiva começa a sofrer uma despersonalização lenta e implacável até se transformar num anexo da pessoa “amada”, um simples apêndice. Quando a dependência é mútua, o enredo é funesto e tragicômico: se um espirra, o outro assoa o nariz. Ou, numa descrição igualmente doentia: se um sente frio, o outro coloca o casaco.
“Minha existência não tem sentido sem ela”; “Vivo por ele e para ele”; “Ela é tudo para mim”; “Ele é a coisa mais importante da minha vida”; “Não sei o que faria sem ela”; “Se ele me faltasse, eu me mataria”; “Eu venero você”; “Preciso de você”; enfim, a lista desse tipo de expressões e “declarações de amor” é interminável e bastante conhecida. Em mais de uma oportunidade, as recitamos, as cantamos embaixo de uma janela, as escre vemos ou, simplesmente, elas brotam sem nenhum pudor de um co ração palpitante e desejoso de transmitir afeto. Pensamos que essas afirmações são demonstrações de amor, representações verdadeiras e confiáveis do mais puro e incondicional dos sentimentos.
De forma contraditória, a tradição tentou incutir em nós um paradigma distorcido e pessimista: o amor autêntico, irremediavelmente, deve estar infectado de dependência. Um absurdo total.
Não importa como se queira argumentar, a obediência devida, a adesão e a subordinação que caracterizam o estilo dependente não são recomendáveis.
A epidemiologia do apego irracional é preocupante. Segundo os especialistas, metade das consultas psicológicas se deve a problemas ocasionados ou relacionados com a dependência
patológica interpessoal. Em muitos casos, não importa o quão nociva for a relação, as pessoas são incapazes de colocar um fim nela. Em outros, a dificuldade reside numa incompetência total
para resolver o abandono ou a perda afetiva. Ou seja: ou não se conformam com o rompimento ou permanecem, inexplicável e obstinadamente, numa relação que não tem pé nem cabeça.(...)
As reestruturações afetivas e as revoluções interiores, quando são verdadeiras, são dolorosas. Não há poção para acabar com a dependência afetiva. Respondi não acreditar que uma pessoa devesse se desapaixonar para terminar uma relação e que duvidava ser possível produzir desamor por força de
vontade e de razão (se fosse assim, o processo inverso também deveria ser possível, mas, tal como atestam os fatos, não nos apaixonamos por quem queremos, mas por quem podemos). Para ser mais exato, disse que o caso dela precisava de um enfoque similar aos usados nos problemas de farmacodependência, no
qual o viciado deve deixar a droga, independentemente de sua vontade. “O que a terapia tenta incentivar nas pessoas viciadas é basicamente o auto con trole para que, ainda necessitando da droga, sejam capazes de brigar contra a urgência e a vontade. No balanço custo-benefício, aprendem a sacrificar o prazer imediato
pela gratificação a médio e a longo prazo. O mesmo ocorre com outros tipos de vícios como, por exemplo, a comida e o sexo.
Você não pode esperar desapaixonar-se para deixá-lo. Primeiro deve aprender a superar os medos que se escondem por trás do apego irracional, melhorar a auto-eficácia, levantar a auto-estima e o auto-respeito, desenvolver estratégias para a resolução de problemas e para ter maior autocontrole. E tudo isso você deverá fazer sem deixar de sentir o que sente por ele. Por isso é tão difícil. Repito, o viciado deve deixar de consumir, mesmo que seu organismo não queira fazê-lo. Deve lutar contra o impulso porque sabe que não lhe convém. Mas enquanto luta e persevera, o apetite está ali, quieto e pungente, flutuando em seu ser e disposto a atacar. Não se pode chegar agora ao desamor, isso chegará depois. Além disso, quando começar a ficar independente, descobrirá que aquele sentimento não era amor, mas uma forma
de vício psicológico. Não há outro caminho, deve se libertar dele sentindo que o ama, mas que ele não lhe convém. Uma boa relação precisa bem mais do que afeto em estado puro.”
O “sentimento de amor” é a variável mais importante da equação interpessoal amorosa, mas não é a única. Uma boa relação de casal também deve se fundamentar no respeito, na comunicação sincera, no desejo, nos gostos, na religião, na ideologia, no humor, na sensibilidade e em mais cem adminículos de sobrevivência afetiva.
Minha paciente era uma viciada na relação ou, se preferir, uma viciada afetiva. Ela apresentava a mesma sintomatologia de um transtorno por consumo de substâncias, mas, nesse caso,
a dependên cia não estava relacionada com a droga, mas com a seguran ça de ter alguém, mesmo que fosse uma companhia terrível. O diagnóstico de dependência estava fundamentado nos
seguintes pontos: a) apesar do maltrato, a dependência havia aumentado com o passar dos meses e dos anos; b) a ausência do namorado ou não poder ter contato com ele produzia uma total
síndrome de abstinência que, além de tudo, não podia ser resolvida com nenhuma outra “droga”; c) existia nela um desejo persistente de deixá-lo, mas suas tentativas eram infrutíferas e pouco
contundentes; d) investia uma grande quantidade de tempo e esforço para poder estar com ele, a qualquer preço e passando por cima de tudo; e) devido ao relacionamento, sofria uma clara
redução e alteração de seu desenvolvimento social, profissional e recreativo; e f) seguia alimentando o vínculo, apesar de ter consciência das graves repercussões psicológicas para sua saúde. Um
caso de “dependência amorosa” sem muito amor.(...)
DESEJO NÃO É DEPENDÊNCIA AFETIVA
A apetência por si só não chega a configurar a doença do apego. O gosto pela droga não é só o que define o drogado, mas a sua incompetência para largá-la ou tê-la sob controle. Abdicar, resignar-se e desistir são palavras que o dependente desconhece.
Querer algo com todas as forças não é mau; transformar esse algo em imprescindível, sim. A pessoa dependente afetiva nunca está preparada para a perda porque não concebe a vida sem sua fonte
de segurança e/ou prazer. O que define a dependência não é tanto o desejo quanto a incapacidade de renunciar a ele. Se há síndrome de abstinência, há apego irracional.
De forma mais específica, se poderia dizer que por trás de toda dependência há medo e, mais atrás ainda, algum tipo de incapacidade. Por exemplo, se sou incapaz de tomar conta de mim mesmo, terei medo de ficar só e me apegarei às fontes de segurança disponíveis representadas por diferentes pessoas. O apego é a muleta preferida do medo, um calmante com perigosas contra-indicações.
O fato de você desejar o seu companheiro ou a sua companheira, de deleitar-se com ele, de não ver a hora de se atirar em seus braços, de ter prazer com sua presença, com seu sorriso ou com sua mais terna bobagem, não significa que você sofra de dependência afetiva. O prazer (ou melhor, a sorte) de amar
e ser amado é para ser desfrutado, sentido e saboreado. Se a sua companheira ou o seu companheiro está disponível, aproveite ao máximo; isso não é apego, mas uma troca. Mas se o bem-estar se torna indispensável, a urgência em encontrar o outro não o deixa em paz e a mente se desgasta pensando nele, bem-vindo ao mundo dos viciados afetivos.
Lembre-se: o desejo move o mundo, e a dependência o freia. A idéia não é reprimir o desejo natural que surge do amor, mas fortalecer a capacidade de se libertar quando é preciso. Um bom sibarita jamais cria dependência.
A INDEPENDÊNCIA AFETIVA NÃO É INDIFERENÇA
Amor e apego não devem ser excessivos. Nós os misturamos a tal ponto que confundimos um com o outro. Lembro um aviso que colocamos na entrada de um centro de ajuda psicológica,
com a seguinte frase de Krishnamurti: “O apego corrompe”. Para a nossa surpresa, a frase, em vez de gerar uma atitude constru tiva e positiva a respeito do amor, acabou ofendendo vários adultos que
freqüentavam o centro. “Não entendo como vocês estão promovendo o desapego”, comentava uma mulher com filhos adolescentes e um pouco decepcionada com o seu psicólogo. Por outro
lado, os mais jovens se limitavam a reafirmar a frase: “Claro, é isso mesmo. Não há dúvida. É preciso se desapegar para não sofrer!”
De forma errônea, entendemos a independência afetiva como sendo o endurecimento do coração, a indiferença ou a insen sibilidade, mas não é assim. Desapego não é desamor, é uma maneira saudável de se relacionar cujas premissas são a independência, dizer não à posse e não à dependência. A pessoa desapegada (emancipada) é capaz de controlar o medo do abandono, não considera que deva destruir a própria identidade em nome do amor, mas tampouco promove o egoísmo e a desonestidade. Desapegar-se não é sair correndo em busca de um substituto afetivo, tornar-se um ser carente de toda a ética ou instigar a promiscuidade. A palavra liberdade nos assusta, e por isso a censuramos.
Declarar-se afetivamente livre é promover o afeto sem
opressão, é distanciar-se do prejudicial e fazer contato com a ternura. O indivíduo que decide romper com a dependência do parceiro entende que se desligar psicologicamente não é fomentar a
frieza afetiva, porque a relação interpessoal nos faz humanos (os sujeitos “apegados ao desapego”não são livres, mas esquizóides).
Não podemos viver sem afeto, ninguém pode fazer isso, mas podemos amar sem nos escravizarmos. Uma coisa é defender o laço afetivo, e outra muito diferente é enforcar-se com ele. A independência afetiva não é mais do que uma escolha que diz, gritando: o amor é a ausência de medo.
Um adolescente que havia decidido “amar com desprendimento” enviou uma carta à namorada contando a notícia. Ela a devolveu em um pequeno saco de lixo, rasgada em pedacinhos.
Cito um trecho da mesma: “Se você está ao meu lado, eu adoro, aproveito, fico feliz, alegra a minha alma; mas se não está, ainda que eu sinta a sua falta, posso seguir em frente. Posso aproveitar uma manhã de sol, meu prato preferido segue me agradando (ainda que eu coma menos), não deixo de estudar, minha vocação
segue de pé e meus amigos seguem me atraindo. É verdade que sinto a falta de alguma coisa, que existe algo de intranqüilidade em mim, que sinto saudades, mas sigo em frente, sigo e sigo. Fico triste, mas não me deprimo. Posso continuar tomando conta de mim mesmo, apesar da sua ausência. Eu a amo, e você sabe que não é mentira, mas isso não quer dizer que não consiga sobreviver sem você. Aprendi que desapego é independência afetiva, e essa é a minha proposta... Nada mais de atitudes possessivas e dominadoras... Sem deixar de lado nossos princípios, vamos nos amar com liberdade e sem medo de sermos o que somos.”
Por que nos ofendemos quando o outro não se angustia com a nossa ausência? Por que nos desconcerta tanto que o nosso parceiro não sinta ciúmes? Realmente estamos preparados para uma relação não-dependente? Alguma vez você tentou?
Está disposto a correr o risco de não dominar, de não possuir e de aprender a perder? Alguma vez você se propôs seriamente a enfrentar seus medos e empreender a aventura de amar sem dependência, não como algo teórico, mas de fato? Se você fez isso, certa mente descobriu que não há contradição evidente entre ser dono ou dona da própria vida e amar a pessoa que está ao seu lado, não é verdade? Não há incompatibilidade entre amar e amar a si próprio. Pelo contrário, quando ambas as formas de
afeto se disso ciam e se desequilibram, aparece a doença mental.
Se a união afetiva é saudável, a consciência pessoal se expande e se multiplica no ato de amar. Ou seja, transcende sem desaparecer. E.E. Cummings o expressava assim: “Amo meu corpo quando está com teu corpo, é um corpo tão novo, de músculos superiores e nervos pulsantes”.
Do livro "Amar ou Depender? de Walter Riso. LPmeditora.
Amor real não depende do outro
Estar relacionado significa não depender do outro.
Temos de considerar o nosso relacionamento tal como é agora, todos os dias; e, observando o que ele é, descobriremos como transformar essa realidade. Assim, estamos descrevendo as coisas tais como efetivamente são. Cada um vive em seu próprio mundo, em seu mundo pessoal de ambição, de cobiça, de medo, de desejo de sucesso e assim por diante. Se sou casado, tenho responsabilidades, filhos; vou ao escritório ou algum outro lugar de trabalho; marido e mulher, rapaz e moça, se encontram na cama. E a isto damos o nome de amor — levar vidas separadas, ser isolados, construir uma parede de resistência ao nosso redor, levando avante uma atividade que gira em torno de nós mesmos. Cada qual procura segurança psicologicamente; cada qual depende do outro para se sentir confortado, para ter prazer, para ter companhia. Como somos todos profundamente solitários, cada um exige que o amem, que o valorizem; cada um está tentando dominar o outro. Vocês mesmos podem perceber isso se se observarem. Há na vida de vocês algum tipo de relacionamento, qualquer que seja? Não há relacionamento entre dois seres humanos; embora possam ter filhos, um lar, na realidade os dois não estão relacionados entre si. Se tem um projeto comum, esse projeto os sustenta, os matem juntos, mas isso não é relacionamento.
Dando-se conta disso, a pessoa percebe que, se não há relacionamento entre dois seres humanos, começa a corrupção, não na estrutura externa da sociedade, no fenômeno externo da poluição, mas na poluição interior, a destruição. Os seres humanos na realidade não tem nenhum relacionamento — como é o caso de vocês. Vocês podem segurar a mão um do outro, beijar-se, dormir juntos; mas na realidade, quando observam tudo isso bem de perto, haverá aí algum relacionamento? Estar relacionado significa não depender do outro, não tentar escapar da própria solidão por meio do outro, não tentar encontrar conforto, companhia, por intermédio do outro. Quando vocês procuram o conforto por meio do outro, quando são dependentes, etc., pode haver algum tipo de relacionamento? Não estarão vocês, nesse caso, usando-se mutuamente?
Não estamos sendo pessimistas, mas observando a realidade tal como é; isso não é pessimismo. Para descobrir o que de fato significa estar relacionado com o outro, é necessário compreender a questão da solidão, porque a maioria de nós é terrivelmente solitária; quanto mais envelhecemos, tanto mais solitários ficamos, principalmente neste país [Estados Unidos]. Vocês já observaram como são os mais velhos? Já se deram conta de suas fugas, de suas diversões? Eles trabalharam a vida inteira e querem fugir para alguma espécie de entretenimento.
Vendo isso, será possível encontrar uma maneira de viver na qual não usemos o outro psicológica nem emocionalmente, não dependamos do outro, não o façamos de válvula de escape das nossas próprias torturas, dos nossos próprios desesperos, da nossa própria solidão?
Compreender isso equivale a compreender o que significa ser solitário. Vocês já ficaram solitários? Sabem o que isso quer dizer? Quer dizer que vocês não têm relação com o outro, estão completamente isolados. Podem estar com a família, no meio da multidão, no escritório, em qualquer lugar, quando essa sensação de profunda solidão, com o desespero que a acompanha, de súbito desaba sobre vocês. Até resolverem isso por completo, seus relacionamentos assumem o caráter de um meio de fuga, levando, por conseguinte, à corrupção, à angústia. Como proceder para compreender essa solidão, essa sensação de isolamento? Para compreendê-la, temos de examinar a nossa própria vida. Não é verdade que todas as suas ações são atividades que giram em torno de vocês mesmos? Vocês podem de vez em quando ser caridosos, generosos, fazer algo sem interesse próprio — trata-se de ocasiões raras. Esses desespero jamais pode ser dissolvido por meio de uma fuga, mas apenas mediante a sua observação.
Logo, voltamos à questão de como nos observarmos a nós mesmos de modo que não haja nenhum conflito nessa observação. Porque o conflito é corrupção, perda de energia; é a batalha da nossa vida do momento em que nascemos até a hora da morte. Será possível viver sem um único instante de conflito? Para fazê-lo, para descobrir isso por nós mesmos, temos de aprender a observar todo o nosso movimento. Há uma observação verdadeira quando não há o observador, mas apenas a observação.
Quando não há relacionamento, pode haver amor? Falamos sobre isso e o amor, tal como o conhecemos, está vinculado com o sexo e o prazer, não é? Alguns de vocês dizem “não”. Se dizem não, vocês devem ser sem ambição, não havendo, assim, competição, divisão — como “você” e “eu”, “nós” e “eles”. Não pode haver divisão de nacionalidade, nem divisão causada pela crença, pelo conhecimento. Só então vocês podem dizer que amam. Porém, para a maioria das pessoas, o amor está vinculado com o sexo e com o prazer, e com toda a labuta concomitante — ciúme, inveja, antagonismo — vocês sabem o que acontece entre um homem e uma mulher. Quando esse relacionamento não é verdadeiro, real, profundo, completamente harmonioso. Como podem vocês ter paz neste mundo? Como pode a guerra ter fim?
Assim, o relacionamento é uma das coisas mais importantes — ou melhor, a coisa mais importante — da vida. Isso significa que se tem de compreender o que é o amor. Certamente deparamos com ele de uma maneira estranha, sem procura-lo. Quando descobrem por si mesmos o que o amor não é, vocês ficam sabendo o que ele é. Não de forma teórica nem verbal, mas quando se dão efetivamente conta do que ele não é: não ter uma mente competitiva, ambiciosa, uma mente que se empenha, compara, imita. É impossível uma mente assim poder amar.
E será que vocês, vivendo neste mundo podem ser completamente sem ambição, jamais se comparando com qualquer outra pessoa? Porque, no momento em que vocês se comparam com o outro, há conflito, há inveja, há o desejo de alcançar, de ir além dele.
Será que uma mente e um coração que se lembram de mágoas, dos insultos, das coisas que os tornaram insensíveis e embotados, será que uma tal mente e um tal coração podem saber o que é o amor? No entanto, o que estamos procurando, consciente ou inconscientemente? Os nossos deuses são o resultado do nosso prazer. As nossas crenças, a nossa estrutura social, a moral da sociedade — que é essencialmente imoral — são o resultado da nossa busca do prazer. E quando vocês dizem “eu amo alguém”, isso é amor? Amor significa ausência de separação, de dominação, de atividade autocentrada. Para descobrir o que ele é, é imprescindível negar tudo isso — negar no sentido de perceber a sua falsidade. Uma vez que se perceba como falsa uma coisa que se aceitava como verdadeira, natural, humana, não mais se pode voltar a ela; quando veem uma cobra ou outro animal perigoso, vocês nunca brincam com ele, vocês nunca se aproximam dele. Do mesmo modo, quando perceberem efetivamente que o amor não é nenhuma dessas coisas, quando o sentirem, o observarem, o mastigarem, viverem com ele, comprometerem-se inteiramente com ele, vocês saberão o que é o amor, o que é a compaixão — que é paixão por todos.
Não temos paixão; temos luxúria, temos prazer. O significado original da palavra paixão é sofrimento. Todos já tivemos algum tipo de sofrimento, por perder alguém, o sofrimento da autocomiseração, o sofrimento da raça humana, tanto coletivo como pessoal. Sabemos o que é o sofrimento, a morte de alguém quejulgamos amar. Quando permanecemos com esse sofrimento de maneira total, sem tentar racionalizá-lo, sem tentar escapar dele de nenhuma forma — por meio de palavras ou da ação —, quando nos mantemos com ele completamente, sem nenhum movimento do pensamento, descobrimos que desse sofrimento vem a paixão. Essa paixão tem a qualidade do amor, e o amor não tem sofrimento.
Krishnamurti —Nova Iorque, 24 de abril de 1971
Extraído do livro: O despertar da Inteligência (Não editado no Brasil)
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