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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Felicidade como processo de vida


Transcrição de uma palestra homônima proferida por Pierre Teilhard de Chardin, em Pequim, no dia 28 de dezembro de 1943.

Por ter sido um padre católico, Teilhard de Chardin propõe em alguns momentos uma visão cristã. Mas, na maior parte do tempo, o discurso se apresenta independente de religiões (mas densamente espiritual).

Gostaria de destacar e compartilhar um desses trechos (páginas 39 a 43 do livro), que em minha opinião sintetiza as ideias propostas no discurso.

(…) A verdadeira felicidade, acabamos de precisar, é uma felicidade de crescimento, e como tal ela nos espera em uma direção determinada por meio da
- unificação de nós mesmos em nosso âmago [centração];
- união de nosso ser com outros seres, nossos semelhantes [descentração];
- subordinação de nossa vida a uma causa maior que a nossa [supercentração].
(…)
1. Centração
Para ser feliz é, de início, necessário reagir contra a tendência do menor esforço, que leva ou a ficar imóvel, ou a buscar, de preferência na agitação exterior, a renovação de nossa vida. Sem dúvida, é necessário que nos enraizemos profundamente nas ricas e tangíveis realidades materiais à nossa volta. Mas é no trabalho de nossa perfeição interior – intelectual, artística, moral – que enfim a felicidade nos espera. A coisa mais importante na vida, dizia Nansen, é encontrar-se a si próprio. O espírito laboriosamente construído através e além da matéria.
2. Descentração
Para ser feliz, em segundo lugar, é necessário reagir contra o egoísmo que nos leva ou a nos fecharmos em nós mesmos ou a submetermos os outros ao nosso domínio. Há uma maneira de amar – má, estéril – segundo a qual buscamos possuir, em lugar de nos darmos. E é aqui que reaparece, no caso do casal ou do grupo, a lei do maior esforço, que já regia o curso interior de nosso desenvolvimento. O único amor realmente beatificante é aquele que se exprime por um progresso espiritual realizado em comum.
3. Supercentração
E, para ser feliz – realmente feliz – é necessário, de uma maneira ou de outra, diretamente ou graças a intermediários gradualmente ampliados (uma pesquisa, uma empresa, uma idéia, uma causa…), transportar o interesse final de nossas existências para o andamento e o sucesso do Mundo à nossa volta. (…) é necessário, para atingirmos a região das grandes alegrias estáveis, que façamos a transferência do pólo de nossa existência a algo maior que nós. O que não supõe, tranquilizem-se, que para sermos felizes, devamos realizar ações grandiosas, extraordinárias, mas somente aquilo que está ao alcance de todos; que, conscientes de nossa solidariedade viva com Algo maior, façamos de maneira grandiosa a menor das coisas. Acrescentar um único ponto, por menor que seja, à magnifíca trama da Vida; discernir o Imenso que se faz e que nos atrai no âmago e no fim de nossas ínfimas atividades; discerni-lo e aderir a ele: tal é, no final das contas, o grande segredo da felicidade. “É em uma união profunda e instintiva com a corrente total da Vida que reside todas as alegrias”, reconhece o próprio Bertrand Russell, uma das mentes mais aguçadas e menos espiritualistas da Inglaterra moderna. (…)

Sugestão de leitura: Teilhard de Chardin, Pierre. Sobre a felicidade / Sobre o amor. Verus Editora, 2005.

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