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domingo, 10 de março de 2013

Qual é o problema de se estudar e divulgar "Os Quatro Evangelhos" de J-B. Roustaing?


Qual é o problema de se estudar e divulgar "Os Quatro Evangelhos" de J-B. Roustaing?

Alguns poderiam objetar: "puxa, mas qual é o problema de se estudar e divulgar "Os Quatro Evangelhos" de J-B. Roustaing? Será que lá não encontramos ensinamentos bons? Não fala em Jesus, em Evangelho? Afinal, esse livro teria sido escrito pelos evangelistas e por Moisés, segundo o próprio Roustaing!

Mas, antes, vejamos algumas das (graves, consideramos) discordâncias entre o Espiritismo e o Roustainguismo:

1 - No Roustainguismo, a encarnação se dá por castigo - Os Anjos Decaídos
"Atingindo o ponto de preparação para entrarem no reino humano, os Espíritos se preparam, de fato, em mundos ad-hoc, para a vida espiritual consciente, independente e livre. É nesse momento que entram naquele estado de inocência e ignorância. (...)

"Chegado deste modo à condição de espírito formado, de espírito pronto para ser humanizado se vier a falir, o Espírito se encontra num estado de inocência completa, tendo abandonado, com os seus últimos invólucros animais, os instintos oriundos das exigências da animalidade". (1º Vol., 5ª ed., pág. 295).
Para Roustaing, portanto, a encarnação humana não é uma necessidade; o Espírito só será humanizado se vier a falir, isto é, a encarnação humana se dá por castigo.

"Não; a encarnação humana não é uma necessidade, é um castigo, já o dissemos. E o castigo não pode preceder a culpa".

"O Espírito não é humanizado, também já o explicamos, antes que a primeira falta o tenha sujeitado à encarnação humana. Só então ele é preparado, como igualmente já o mostramos, para sofrer as conseqüências". (1º Vol., 5ª ed., pág. 317)

Comparem com o que ensina a Doutrina Espírita:

P. 132 de „O Livro dos Espíritos (LE): "Qual é a finalidade da encarnação dos Espíritos?"

R.: Deus a impõe com o fim de levá-los à perfeição: para uns, é uma expiação; para outros, uma missão. Mas, para chegar a essa perfeição, eles devem sofrer todas as vicissitudes da existência corpórea; nisto é que está a expiação. A encarnação tem ainda outra finalidade, que é a de pôr o espírito em condições de enfrentar a sua parte na obra da criação. É para executá-la que ele toma um aparelho em cada mundo, em harmonia com a sua matéria essencial, a fim de nele cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. E, dessa
maneira, concorrendo para a obra geral, também progride."

P. 133: "Os Espíritos que, desde o princípio, seguiram o caminho do bem, têm necessidade da encarnação?".

R.: Todos são criados simples e ignorantes e se instruem através das lutas e tribulações da vida corporal. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a alguns, sem penas e sem trabalhos e, por conseguinte, sem mérito".

Mais um ponto de discordância. O Espiritismo rejeita peremptoriamente a metempsicose, enquanto Roustaing ( e os espíritos que se comunicaram) a defende, especialmente no caso de o espírito descrer da existência de Deus.

2 - Espíritos "falidos" encarnariam como lesmas

"Queda pelo ateísmo, levando à encarnação primitiva"

"Até o ateísmo - por mais impossível que pareça - até o ateísmo não raro se manifesta naqueles pobres cegos colocados no centro mesmo da luz. E nunca, como aí, o ateísmo nasce tão diretamente do orgulho. Não vendo aquele de quem tudo emana, negam-lhe a existência e se consideram a base e a cúpula do edifício. Nesse caso, sobretudo nesse caso, mais severo é o castigo. É um dos casos de primitiva encarnação humana. Preciso se torna que os culpados sintam, no seu interesse, o peso da mão cuja existência não quiseram reconhecer." (1º vol., pág. 311)

Esses ateus sofrem o castigo da "primitiva encarnação humana" transformando-se em lesmas, a que Roustaing dá o nome de "criptógamos carnudos":

"São corpos rudimentares. O homem aporta a essas terras no estado de esboço, como tudo que se forma nas terras primitivas. O macho e a fêmea não são nem desenvolvidos, nem fortes, nem inteligentes".

"Mal se arrastando nos seus grosseiros invólucros, vivem, como os animais, do que encontram no solo e lhes convenha. As árvores e o terreno produzem abundantemente para a nutrição de cada espécie. Os animais carnívoros não os caçam. (...)

"O Espírito vai habitar corpos formados de substâncias contidas nas matérias constitutivas do planeta. Esses corpos não são aparelhados como os vossos, porém os elementos que os compõem se acham dispostos por maneira que o Espírito os possa usar e aperfeiçoar. Não poderíamos compará-los melhor do que a criptógamos carnudos."

Heresia científica: "Criptógamo carnudo" jamais poderia ser utilizado para designar um animal, uma vez que a palavra "criptógamo" serve para designar certas plantas cujos órgãos reprodutores não aparecem, são ocultos.

Herculano Pires comenta:

"Essa é a revelação da revelação. Roustaing copia e desfigura Kardec acrescentando aos seus ensinos os maiores absurdos. Note-se que essas criaturas estranhas, em forma de larvas e lesmas, são encarnações de espíritos humanos que haviam atingido alta evolução sem passar pela encarnação humana. Depois de desenvolverem a razão em alto grau e de haverem colaborado com Deus nos processos da Criação, chegando mesmo a orientar criaturas humanas, voltam à condição de criptógamos carnudos(...)"

Em resumo, a tese rustenista conflita com um princípio basilar da Doutrina Espírita, o da Não-Retrogração do Espírito, e defende a metempsicose.

É claro que o grupo que estudava Roustaing foi alvo de toda sorte de crítica face aos absurdos detectados por vários espíritas que estudavam e defendiam a Codificação.

Ismael e seus simpatizantes reagiram e se disseram incompreendidos e perseguidos pelos "espíritos das trevas" (termo corrente entre os rustenistas).

Proclamando-se representantes do Cristo na Terra, declararam:

"São as escutas da Treva. Por trás delas comandam os maiorais. A cada um que aqui aporta corresponde um novo acesso de fúria daqueles que vêem inutilizados os seus propósitos, pelos soldados do Cristo de Deus, sob o comando de Ismael." ("Trabalhos do Grupo Ismael")

"Peçamos ao divino Pastor que defenda a Casa de Ismael, que lhe coloque às portas as sentinelas do seu amor, a fim de que a treva não assalte de surpresa, derrubando os pobres calcetas, que na carne procuram servi-la."

Percebam que os rustenistas fazem o papel de vítimas, enquanto posicionam seus adversários ideológicos como "agentes da trevas" e obsidiados.

"Pensa (Vinícius) que ao demônio da cizânia, esforçada e continuamente aplicado à obra nefasta da discórdia, da separatividade, da divisão, se devem imputar as hostilidades de que é alvo a Federação. Só a esse demônio se pode atribuir que alguns irmãos que militam nas nossas fileiras sejam levados a ver grandes disparidades entre a obra do Mestre e a de Roustaing e a combater esta última, que para todo aquele que aprecia, de ânimo desprevenido e sem idéias preconcebidas, se apresenta como complementar da outra, pelo zelo extremo que a primeira lhe inspira."

J.B. Roustaing foi contemporâneo de Kardec e residia na cidade de Bordéus (ou Bordeaux). Militou no movimento espírita nascente daquela cidade.

Kardec chegou a visitar Bordéus, sendo recebido festivamente por todos. Roustaing não compareceu para receber Kardec, possivelmente irritado com a indiferença com que Kardec se reportou à sua obra.

Foi então durante a permanência de Kardec junto aos espíritas bordelenses que Erasto fez a seguinte advertência, como jamais havia feito antes e jamais haveria de fazer depois, coincidentemente na mesma cidade em que surgia "Os Quatro Evangelhos" de Roustaing:

(...) Se não tivésseis dado o exemplo de uma fraternidade sólida; se, enfim, não fosseis um centro sério e importante da grande comunhão Espírita francesa, eu teria deixado esta questão na sombra. Mas, se a levanto, é que tenho plausíveis razões para vos convidar a manter, entre os vossos diversos grupos, a paz e a unidade de Doutrina (...)

Não ignoro, e não deveis ignorar não mais, que se empregará de tudo para semear a divisão entre vós; que se procurará armar-vos emboscadas; que se semeará, sobre o vosso caminho, armadilhas de toda sorte; que vos oporão uns aos outros, a fim de fomentar uma divisão e levar a uma ruptura sob todos os aspectos lamentáveis; mas sabereis evitar isso, praticando primeiro diante de vós mesmos, e em seguida diante de todos, os sublimes preceitos da lei de amor e caridade. (...)

"Vossos excelentes guias já vos disseram: tereis de lutar não só contra os orgulhosos, os egoístas, os materialistas e todos esses infortunados que estão imbuídos do espírito do século; mas ainda, e sobretudo, contra a turba de Espíritos enganadores (...) que virão logo vos atacar : uns com dissertações previamente combinadas onde, à custa de algumas piedosas tiradas, insinuarão a heresia ou algum princípio dissolvente; os outros com comunicações abertamente hostis aos ensinamentos dados pelos verdadeiros missionários do Espírito de Verdade. Ah! Crede-me, não temais nunca então em desmascarar os patifes que, novos Tartufos, se introduzirão entre vós sob a máscara da religião; sede igualmente
sem piedade para com os lobos devoradores que se escondem sob peles de ovelhas. (...)

A mensagem acima de Erasto merece toda nossa atenção. Leiam não só uma vez, mais quantas forem necessárias, e perceberão facilmente a firmeza que Erasto sugere que se tenha para lidar com essa classe de espíritos. E notem e meditem sobre a seguinte frase:

"Crede-me, não temais nunca então em desmascarar os patifes que, novos Tartufos, se introduzirão entre vós sob a máscara da religião; sede igualmente sem piedade para com os lobos devoradores que se escondem sob peles de ovelhas. (...)

"Devi vos falar como o fiz, porque me dirijo a pessoas que ouvem a razão, a homens que perseguem seriamente um objetivo eminentemente útil; a melhoria e a emancipação da raça
humana; (...) Devi vos falar assim, porque era preciso vos premunir contra um perigo, vo-lo assinalando: era meu dever; vim cumpri-lo."

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