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terça-feira, 19 de março de 2013

Carl Jung Revolutions




 
"O conhecimento baseia-se não somente na verdade, mas no erro também".

Arquétipos
São imagens recorrentes no inconsciente coletivo (formas-pensamento), que expressam e definem uma situação. São mais que um ícone, pois contêm uma grande carga de emoção (além da informação) que é transmitida a quem vê. Ex: Jesus na cruz simboliza um arquétipo de ser bondoso que sofreu injustamente e resignado, o que causa um efeito anestésico (inconsciente) em quem está passando por provações (por identificação). Já Trinity se tornou (pra muitos) um arquétipo feminino desta geração, assim como Marilyn Monroe o foi para a geração dos anos 60. Uma vez que esses arquétipos são assimilados pela pessoa, são trabalhados individualmente, podendo até assumir o controle da personalidade (no caso da Sombra). Não é preciso entrar em contato sensorial com os arquétipos para que eles atuem, já que cada indivíduo nasce com acesso a toda a "Biblioteca de Arquétipos", via Inconsciente Coletivo. 

Persona
É a máscara usada pelo indivíduo em resposta às convenções e tradições sociais e às suas próprias necessidades arquetípicas internas. É o papel que a sociedade lhe atribui, que espera que você represente na vida. O propósito da máscara é produzir uma impressão definitiva nos outros e, muitas vezes, embora não obrigatoriamente, dissimula a verdadeira natureza do indivíduo, em oposição à personalidade privada, que existe por trás da fachada social. Se o ego se identificar com a 'persona', como freqüentemente o faz, o indivíduo terá mais consciência do papel que está representando do que de seus sentimentos genuínos. Será sugado pelo personagem, tornando-se um alienado de si mesmo e toda a sua personalidade toma um aspecto superficial e bidimensional. (a persona assemelha-se, em certos casos, ao superego, de Freud) 



Sombra
O arquétipo da Sombra é o lado escuro da mente, moradia do inconsciente. Lá estariam guardados os instintos animais que o homem herdou de espécies primitivas na evolução, e também as funções menos utilizadas da personalidade. É representada pelas idéias, desejos e memórias que foram reprimidos pelo consciente, por ser incompatível com a Persona e contrárias aos padrões morais e sociais. Quanto mais forte for nossa Persona, e quanto mais nos identificarmos com ela, mais repudiaremos outras partes de nós mesmos. A Sombra representa aquilo que consideramos inferior em nossa personalidade e também aquilo que negligenciamos e nunca desenvolvemos em nós mesmos. Em sonhos, a Sombra freqüentemente aparece na forma daquilo que detestamos. No caso de Neo, um engravatado. 

Quanto mais a Sombra tornar-se consciente, menos ela pode dominar. Entretanto, a Sombra é uma parte integral de nossa natureza, e nunca pode ser simplesmente eliminada. Uma pessoa sem Sombra não é uma pessoa completa, mas uma "caricatura bidimensional" que rejeita a ambivalência presente em todos nós. Além disso, a Sombra não é apenas uma força negativa na psique. Ela é um depósito de considerável energia instintiva, espontaneidade e vitalidade, e é a fonte principal de nossa criatividade. Lidar com a Sombra é um processo que dura a vida toda, consiste em olhar para dentro e refletir honestamente sobre aquilo que vemos lá. Mas cuidado para não se tornar a sombra, pois ela também é um arquétipo "bidimensional". 

Projeção
A Sombra é mais perigosa quando não é reconhecida pelo seu portador. Neste caso, o indivíduo tende a projetar suas tendências indesejáveis em outros. Um ótimo exemplo: "Durante mais de 5 anos este homem percorreu a Europa como um louco, em busca de qualquer coisa a que pudesse deitar fogo. Infelizmente sempre haverá mercenários prontos a abrir as portas da sua pátria a este incendiário internacional." Esta frase não é SOBRE Hitler, e sim DE Hitler, falando sobre Winston Churchill.

Desconfie se sua namorada tiver a paranóia de que você a está traindo, sem você ter dado motivo, ou daquele seu amigo que vive dizendo que todo mundo é gay. A Sombra é o oposto do ego e encarna, precisamente, o traço de caráter que mais detestamos nos outros. E aí lembro do espírito Joana de Angelis, que diz que o ódio é o amor distorcido. Na verdade, ao odiarmos, estamos sufocando algo que temos dentro da gente (por isso a ressonância), que cultivamos (quem cultiva, ama), mas não admitimos. Se não a cultivássemos, a Sombra não existiria desta forma. Daí a necessidade do caminho do meio, do equilíbrio. Se o ego for bem trabalhado nas 4 funções (pensamento, sentimento, sensação e intuição), não vão sobrar grandes opostos pra Sombra encarnar. No filme Matrix vemos a simbologia da projeção dos medos do inconsciente quando Morpheus fala a Neo sobre os Agentes: "Dentro da Matrix eles são todos e não são ninguém. Nós sobrevivemos nos escondendo deles e correndo deles, mas eles são os porteiros. Eles protegem todas as portas e têm todas as chaves. Cedo ou tarde, alguém terá de lutar com eles".

Anima e Animus
Anima (alma, em latim) é a representação feminina no inconsciente do homem (que idéia ele faz, no seu íntimo, da mulher). O caráter da anima é, em geral, determinado pela sua mãe. Se o homem sente que sua mãe teve sobre ele uma influencia negativa, sua anima se manifestará de forma negativa, ou seja, ele poderá ser inseguro, apático, com medo de doenças, de impotência ou de acidentes (se ele conseguir combater essas influencias negativas da Anima, sua masculinidade tende a fortalecer-se). 
A vida poderá adquirir um aspecto tristonho e opressivo, que pode levar o homem até mesmo ao suicídio. 
Se, por outro lado, a experiência com a mãe tiver sido positiva, a Anima poderá deixá-lo efeminado ou explorado por mulheres, incapaz de fazer face às dificuldades da vida (menino criado com vó dá nisso!).

A manifestação mais freqüente de Anima é a que toma forma como fantasia erótica, que leva o homem a consumir revistas pornográficas, sex-shows, etc. É um aspecto primitivo e grosseiro da Anima, mas que só se torna compulsivo quando o homem não cultiva suficientemente suas relações afetivas - quando sua atitude para com a vida mantém-se infantil.



Animus (espírito, em Latim) é o lado masculino no inconsciente da mulher. Assim, uma mulher muito feminina tem uma alma masculina não desenvolvida (trabalhada). Em seu relacionamento com o mundo, se ela é impressionável, calorosa, estimulante e envolvente, seu lado masculino interior será muito diferente: duro, crítico, agressivo, prepotente... 
O Animus (assim como a Anima) possui 4 estágios de desenvolvimento: o primeiro como personificação da força física (o atleta, a força pelos músculos), no estágio seguinte, como o homem de ação (iniciativa e planejamento). No terceiro, manifesta-se como verbo, como professor, e na quarta e mais elevada manifestação torna-se (assim como a Anima) mediador de uma experiência na qual a vida adquire um novo sentido. Dá à mulher uma firmeza espiritual e um amparo interior, que compensa sua brandura exterior. Relaciona a mente feminina com a evolução espiritual da época, tornando-a assim mais receptiva a novas idéias criadoras do que o homem. É por este motivo que antigamente, em muitos países, cabia à mulher adivinhar o futuro ou a vontade dos Deuses. A audácia criadora do seu Animus positivo expressa, por vezes, pensamentos e idéias que estimulam a humanidade a novos empreendimentos. 

Anima/Animus é também uma Sombra, e como tal pode ser projetada. Isso é feito quando a pessoa apaixona-se logo de cara, quando diz "É essa/esse"! e parece que se conhece essa pessoa há tempos. Pessoas fascinantemente misteriosas são as mais fáceis do homem/mulher projetar sua Anima/Animus, pois em torno delas podem-se tecer as mais variadas fantasias. Para sair desta ilusão, é preciso reconhecer o Anima/Animus como um poder e qualidade interior. O objetivo de todo esse jogo do inconsciente é forçar o ser humano a desenvolver e amadurecer o próprio ser, integrando melhor a sua personalidade inconsciente e trazendo-a à realidade da vida (mesmo que seja através de subterfúgios, como projeções).

"Cada homem sempre carregou dentro de si a imagem da mulher; não a imagem desta ou daquela mulher, mas uma imagem feminina definitiva".

Mas a Anima/Animus não é só negativa. Ao contrário, uma Anima bem trabalhada pode levar o homem ao seu pleno potencial. A função mais importante da Anima é ajudar a sintonizar a mente masculina com seus valores interiores positivos, assumindo então uma posição de mediadora entre o mundo interior e o Self. E é através deste desejo íntimo de trabalhar aspectos que o homem não possui, que um homem tímido tende a procurar alguém que seja extrovertida. Como no velho ditado "os opostos se atraem", ou a "cara metade", a "banda da laranja". As pessoas buscam o oposto nas outras pessoas quando na verdade é um subterfúgio do inconsciente para encontrar o oposto dentro delas mesmas). 

"Atrás de um grande homem sempre existe uma grande mulher". Verdade; embora o contrário também seja verdadeiro. Vemos este arquétipo de Anima como a salvação, a luz no fim do túnel, no livro A Divina Comédia, onde Beatriz guia Dante através de um (significativo e simbólico) caminho tortuoso e íngreme, que o leva à redenção. Trinity simboliza a Anima de Neo em Matrix, e através dela (direta e indiretamente) ele pode manifestar suas potencialidades. Na Índia vemos essa dualidade/complementação no casal de Deuses Shiva/Kali e Vishnu/Parvati. 

A Anima/Animus vai muito mais fundo na contraparte da personalidade (lado oposto inconsciente) que a Sombra. Se a imagem da Sombra desperta medo e apreensão, a Anima/Animus, ao contrário, estimula o desejo de união. A Sombra leva a pessoa de encontro à parte indesejada da psique total, suas qualidades inferiores. Mas não vai além disso, a menos que se deseje ir de encontro com o mal absoluto. A estrutura Anima/Animus leva a pessoa a níveis muito mais profundos do Self, pois está ancorada em aspectos do inconsciente coletivo e arquétipos, não sendo apenas reflexos negativos de si mesmo. 

"Nós não podemos mudar nada sem que primeiro a aceitemos".

Individuação
É um processo ininterrupto de aprimoramento pessoal. A harmonização do consciente com o Self. O caminho para a iluminação. Todos estamos num processo de Individuação, no entanto, a grande maioria não o sabe. Mas os que estão suficientemente conscientes deste processo, podem tirar algum proveito disso. 

Mas não é assim tão é fácil: o ego reclama, pois se sente tolhido em suas vontades ou desejos, e projeta essa frustração sobre qualquer objeto exterior (Deus, a economia, o vizinho, o namorado(a) ou o trabalho). Algumas vezes tudo parece estar bem com a pessoa, mas no íntimo ela sente tédio e um vazio mortal. Há também o perigo de identificação com a Persona. Aqueles que o fazem tendem a tentar tornar-se perfeitos demais, incapazes de aceitar seus erros ou fraquezas, ou quaisquer desvios de sua auto-imagem idealizada. Aqueles que se identificam totalmente com a Persona tenderão a reprimir todas as tendências que não se ajustam, e a projetá-las nos outros, atribuindo a eles a tarefa de representar aspectos de sua identidade negativa reprimida. 

Há alguns estágios básicos para a Individuação, que são: reconhecer as máscaras (persona), confrontar a Sombra, a Anima/Animus, e finalmente, o desenvolvimento do Self. Mas não pensem que acaba por aí, ou que isso seja fácil. É necessário ter em mente que, embora seja possível descrever a Individuação em termos de estágios, o processo é bem mais complexo que isso. Todos os passos mencionados sobrepõem-se, e as pessoas voltam continuamente a problemas e temas antigos (espera-se que de uma perspectiva diferente). A Individuação poderia ser apresentada como uma espiral na qual os indivíduos permanecem se confrontando com as mesmas questões básicas, de forma cada vez mais refinada. Este conceito está muito relacionado com a concepção Zen-budista da iluminação, na qual um individuo nunca termina um Koan - ou problema espiritual - e a procura por si mesmo é vista como idêntica à finalidade. É como falei em outro post: a vida é um eterno Saindo da Matrix.

* de Lázaro Freire



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