Total de visualizações de página
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
O CAMINHO DO GUERREIRO
O CAMINHO DO GUERREIRO
Nathalia Leite
O CAMINHO DO GUERREIRO
Para mim, o mundo é assombroso porque é estupendo, assustador, misterioso, insondável; meu interesse e convencer você cz tomar ciência de que esta aqui, ateste mundo maravilhoso, ateste deserto maravilhoso, veste tempo maravilhoso. Quero convencer você a aprender a tornar cada ato importante e válido, jd que vai ficar aqui por um curto espaço de tempo. Noz verdade, curto demais pura conhecer todas as maravilhas que vele existe." (Dom Juan, em trecho extraído de Viagem a Ixtlan, de Carlos Castaneda)
O Divisor de Águas
No verão de 196O, o antropólogo Carlos Castaneda, da Universidade da Califórnia, foi a Nogales, no Arizona, colher informações para sua tese de pós-graduação sobre o uso de ervas medicinais e psicotrópicas por tribos mexicanas. Lá, mais precisamente num ponto de ônibus, conheceu um velho índio yaqui pertencente a uma antiga linhagem xamânica do México. O feiticeiro, que se auto intitulava Dom Juan Matus, viu em Castaneda um discípulo, iniciando-o numa jornada assustadora e arrasadora pelos mistérios de outras dimensões.
Pouco se sabe de concreto sobre a história pessoal de Castaneda até aquele encontro, uma vez que ele mesmo engendrou um grande esforço para conseguir apagá-la, a pedido de seu mestre. Alguns lhe atribuem origem peruana, enquanto ele próprio disse que nasceu no Brasil, na cidade de Mairiporã, próxima a São Paulo, no dia de Natal, em 1935.
Quando conheceu Dom Juan, Castaneda era como qualquer outro típico homem ocidental: escravizado pela opinião alheia, dependente dos outros, egocêntrico e cheio de inseguranças que tentava obscurecer inutilmente, ostentando uma intelectualidade acadêmica que, posteriormente, percebeu não servir para nada. Em seu primeiro encontro com o brujo (curandeiro), Castaneda recebeu um olhar desconcertante, sentindo que todas suas defesas tinham sido desativadas, o que o fez se sentir extremamente frágil. Dom Juan o induziu a questionar suas certezas mais profundas, a tal ponto que diluiu o mundo pessoal de seu aprendiz. Daí viria o porquê de se "apagar a história pessoal", para que o indivíduo se liberte da "prisão da personalidade" e da importância auto-imbuída e possa mergulhar tranqüilamente pelo infinito - o nagual.
Dom Juan dizia que "ser impecável significa pôr sua vida alinhada de modo a apoiar suas decisões, e então fazer muito mais que o seu melhor para realizar estas decisões". Para isso, ensinava Castaneda a se desprender do ego, que faz as pessoas "pseudo-agirem", isto é, viverem em função do reconhecimento social.
Castaneda contava que, quem de fato o havia escolhido como discípulo, tinha sido Mescalito, uma entidade que habitava o peiote. Sob a orientação de Dom Juan, Castaneda experimentou extraordinárias alucinações através do consumo do peiote, de cogumelos mágicos e da datura - a figueira-do-inferno. Suas experiências com as plantas psicotrópicas foram relatadas em seu primeiro livro, A Erva do Diabo, que teve repercussão imediata entre a geração,flower power.
Durante esses "transes", Castaneda afirmava que podia se transformar em corvo, lutar contra feiticeiras poderosas, conversar com lagartos, penetrar em outras dimensões, e ser instruído por Mescalito sobre a "maneira adequada de viver". Em seus livros, ele explicava que essas plantas eram utilizadas apenas para quebrar a corrente de interpretações que formam a realidade objetiva; elas promoviam um estado de abstração pura, no qual todas as construções mentais que dão origem ao mundo do dia-a-dia desapareciam.
No entanto, ao contrário do que muitos pensam, Castaneda não fazia apologia do uso dessas "plantas sagradas", que só poderiam ser consumidas com o auxilio de um guia. Em entrevista à revista Veja, em 1986, Castaneda disse que "Dom Juan usou psicotrópicos e plantas alucinógenas como um auxílio aos ensinamentos. Uma vez atingido o objetivo, estes veículos se tornaram desnecessários". Navegar em outras dimensões, ele dizia, pode trazer revelações atemorizantes, cujos efeitos poderiam ser devastadores para a psique humana. Castaneda contou que, em suas primeiras experiências, tinha a certeza de que sem um guia teria perdido o caminho de volta à realidade consensual. Disse ainda que, se uma pessoa interrompe acidentalmente a corrente do bom senso e não consegue refazê-la, torna-se psicótica. O bruxo, explica Castaneda, consegue "viajar" voluntariamente e adquirir novas compreensões sem perder os parâmetros do mundo consensual. A "loucura controlada" é o que permite ao feiticeiro adaptar seus vastos conhecimentos à vida prática, pois todos eles só são válidos se forem pragmáticos, alegava Castaneda.
O Tonal e o Nagual
Castaneda definia o tonal como uma espécie de coleção de todas as memórias e informações contidas no consciente, formas de interpretação que têm relação com a cultura. Seria como uma ilha na qual estão presentes todas as coisas que podem ser nomeadas.
Já o nagual seria o oceano indizível existente em torno da ilha, as infinitas possibilidades, uma espécie de silêncio absoluto. Para Castaneda, a cultura ocidental não admite elementos que não se enquadrem no senso comum, na "ilha-tonal". Segundo ele,"a educação formal e informal - ou
seja, aquela que é produto daintegração cultural - do homem ocidental não dá margem a nada estranho ou diferente do consenso social. Aquilo que está fora da norma do nosso bom senso é considerado anormalidade".
De tato, as duas realidades de que Castaneda falava não estão separadas uma da outra. Elas se unem para compor a totalidade, embora a maior parte da humanidade só consiga "perceber" a realidade palpável, objetiva e visível. Os xamãs do antigo México, afirmava Castaneda, eram capazes de compreender a causa primária da manifestação universal e sua força motriz - a qual chamavam de Intento. "Dom Juan dizia que quem organiza as idéias que vêm da fonte não é o xamã, mas o Intento. O xamã é, simplesmente, um condutor impecável", disse Castaneda, em entrevista
à revista chilena Uno Mismo, em 1997.
O escritor sustentava que, para atingir a impecabilidade do Guerreiro, é necessário abandonar toda importância pessoal, e tornar-se consciente de que o caminho a seguir é solitário e individual; não diz respeito a mais ninguém. Dom Juan costumava dizer a seu aprendiz que "num mundo onde a Morte é a caçadora,não há tempo para arrependimentos ou dúvidas, apenas para decisões".
"Dom Juan me ensinou a viver para o agora", disse Castaneda, "a encarar a minha morte como um fato inevitável e existente em minha vida. O conceito de morte deve ser encarado como uma
realidade. Ele me ensinou que, se eu me considerasse como morto, nenhuma das minhas ações teria importância pessoal, e com isso eu poderia mudar; mudanças poderiam ser feitas e tarefas
ser cumpridas".
Ele dizia que os homens ocidentais não aprendem a ser responsáveis durante a infância e que, por isso, crescem infantis. Seu maior intuito, que acredita ter alcançado, era o de deixar de ser "criança-profissional" e se tornar "guerreiro-pirata". O guerreiro seria aquele que vive impecavelmente de acordo com aquilo que sente, e é imprevisível porque pode mudar de direção e seguir outro caminho a qualquer momento, se sua intuição assim o quiser. Dom Juan dizia: "Todos os caminhos são iguais. Eles não levam a lugar algum".
Castaneda morreu de câncer hepático, no dia 27 de abril de 98. Sua última obra foi O Lado Ativo do Infinito, publicado após sua morte e que fala, justamente, sobre a morte. Considerado pela revista Time o líder do renascimento espiritual dos EUA, o discípulo de Dom Juan participou de palestras, conferências, seminários e centros de praticantes da tensegridade, juntamente com suas companheiras.
Plagiado pelos diversos falsos gurus da atualidade, Castaneda era um homem simples, que fugia da publicidade, não permitia que o fotografassem ou gravassem suas entrevistas.
Por muitos anos, ele esteve "desaparecido do mapa", vivendo sob falsa identidade, isolado de seus amigos e do público, atitude que foi interpretada por alguns como "estrelismo" e, por outros, como "sabedoria". Desde o seu aprendizado com o feiticeiro Dom Juan até o fim de sua vida, Castaneda empenhou-se em trilhar o único caminho que, para ele, tinha um
coração: o caminho do guerreiro.
Nathalia Leite
Este artigo não está na íntegra. Você poderá saboreá-lo na íntegra, aqui:
http://www.ippb.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2021&catid=80
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário