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segunda-feira, 11 de abril de 2011
Chico Xavier e sua primeira encarnação masculina
Chico e sua primeira encarnação masculina
Nelson Moraes
R.A. Ranieri foi um dos amigos de Chico Xavier que soube desfrutar e beber a sabedoria do inigualável médium de Pedro Leopoldo.
Um dos poucos que participaram das inesquecíveis materializações luminosas produzidas através da mediunidade de Chico. Presenciou a materialização de Emmanuel quando na ocasião ordenou ao médium que não mais se prestasse ao trabalho de materializações, assinalando o compromisso com os livros.
R. A. Ranieri, publicou vários livros onde narra suas experiências vividas ao lado de Chico. Em um deles, Chico Xavier: o Santo dos Nossos Dias, publicado em 1976, pela Editora Eco, depois de ouvir de outros companheiros que estavam levantando a hipótese de Chico ter sido Allan Kardec, ele narra o seguinte:
"Nós nunca ouvimos o Chico dizer que ele era Allan Kardec e nem ouvimos dizer que ele afirmasse isso. Houve e há muita gente que acredita que ele o seja. De nossa parte, não vemos nada que pudesse impedir. Chico tem qualidades excepcionais e a humildade necessária para ser classificado entre as maiores figuras da humanidade. Se dependesse de nós escolher alguém que ele pudesse ter sido, nós escolheríamos Francisco de Assis, alma talvez mais pura que a de Allan Kardec. E isso, faríamos pela semelhança profunda que existe entre ambos. O mesmo amor às coisas simples, a mesma beleza espiritual, a mesma simplicidade e o mesmo anseio de servir a Jesus. Escolheríamos até João Evangelista que segundo alguns, é o mesmo Francisco de Assis. Há uma linha de evolução que torna essas criaturas herdeiras umas das outras. Uma identidade de sentimentos, uma compreensão igual da vida humana... Os três estão cheios de poesia. João na clarividência da ilha de Patmos, Francisco de Assis, nos poemas imortais de louvor a Deus, e Chico na poesia simples da sua alma, que recebe os poetas de nossa língua...
Kardec é Paulo, o apóstolo. E a linha evolutiva de Paulo estava noutro grau de ascensão. Guardava ainda a energia a outro trabalho no mundo. O espírito preocupado com a dialética da doutrina, classificando os dons da mediunidade, reestruturando o Cristianismo. O homem que organiza e codifica, a figura austera e sóbria, embora ardente e fervoroso. Há diferenças profundas entre Paulo e João ou Francisco. Seria possível admitir também que Chico tivesse sido o santo Francisco Xavier, que andou pelas Índias, pregando e sofrendo. Poderia ser. E poderia ser Sócrates, porque para nós Chico é o melhor Sócrates. Ninguém mais sábio, o mais sábio dos homens."
Ranieri, sempre demonstrou uma tendência a crer que Chico fosse a reencarnação do Santo Francisco Xavier. Questionado sobre isso, Chico confessou-lhe que esta era a sua primeira reencarnação masculina, tanto é que em uma narrativa que consta do mesmo livro na página 67, depois de um momento em que compartilhou da presença de Chico ouvindo as suas palavras, meditou sobre a semelhança da sabedoria e da simplicidade de Sócrates com relação à postura de Chico, logo após essas conjecturas, ele afirma: "Mas ele nos dissera que aquela era a sua primeira encarnação masculina. Assim, conformamo-nos admitindo que os espíritos passavam pelo mesmo estágio de evolução e bem poderia ser que o nosso Chico atingia agora o que se poderia chamar de ”estágio socrático"."
No livro Recordações de Chico Xavier, editado pela Editora Fraternidade, Ranieri faz uma referência sobre duas encarnações femininas de Chico em que foi filha de Emmanuel: uma como Flávia no livro Há Dois Mil Anos e outra no Ave Cristo, onde foi filha de Basílio.
Os livros citados de Ranieri, foram editados nos anos 70, portanto, Chico estava presente na Terra e em pleno vigor, isso desestimularia qualquer um publicar uma afirmação sua que não fosse verídica.
Para mim sempre esteve claro que Chico não foi a reencarnação de Allan Kardec, um espírito não muda suas características psíquicas em um período tão próximo entre uma e outra encarnação.
No livro citado primeiro, Chico afirma:
"Ranieri, você tem mais facilidade para receber espíritos europeus, franceses e ingleses, porque viveu em outras existências no meio dos escritores franceses. Eu recebo com facilidade espíritos de língua portuguesa e espanhola porque vivi em existências passadas na Espanha e em Portugal. Meu psiquismo é da língua portuguesa e espanhola.”
Essa afirmação de Chico confirma o que me foi revelado por Aurora Barba, uma trabalhadora incansável da caridade cristã, muito amiga de Chico, inclusive ele é padrinho de casamento de suas duas filhas. Disse-me ela que o Chico, ao recebê-la em Uberaba pela primeira vez, falou de uma encarnação na Espanha quando estiveram envolvidos no triste episódio da Inquisição.
Abordei esta questão apenas para que os leitores possam aguçar o discernimento e tirarem suas próprias conclusões. Chico ter sido Kardec ou não, não altera e nem diminui a sua grandeza espiritual. Chico foi um facho de luz que passou pela Terra para clarear os caminhos humanos em ter sido contemporâneo desse maravilhoso espírito que jamais será esquecido.
Com a sua partida, acredito que se encerrou a era dos fenômenos. Entramos definitivamente na era da expansão espiritual dos sentidos humanos para uma real integração do ser com a sua natureza mais ampla. Portanto, precisamos reavaliar a questão da mediunidade que passa por um período importante onde se extingue a condição orgânica para suscitar o desenvolvimento da condição natural, a qual se aprimora à medida que a moral se eleva e as intenções se enobrecem no cultivo dos ideais legítimos de caridade e de amor ao próximo.
É preciso que se entenda que Chico dedicou uma parcela do seu tempo à psicografia de entes queridos desencarnados a fim de atender a um projeto muito maior do que apenas consolar os saudosos da Terra. Nesse trabalho, expandiu a mensagem do Consolador Prometido oferecendo provas irrecusáveis aos pesquisadores e aos adversários mais ferrenhos do Espiritismo, conseguindo converter para a verdade até os mais céticos. Isso só foi possível, porque o Chico dispunha de uma mediunidade orgânica pela qual o espírito comunicante assumia o comando da mão do médium, por isso as assinaturas foram confirmadas nos exames grafológicos, somando-se a riqueza de detalhes do conteúdo das comunicações. O mesmo se deu com todas as suas obras que emolduram períodos da nossa história retratando com precisão os costumes e a cultura de épocas distantes.
Realizar um trabalho como esse, sem dispor da mecânica inerente à mediunidade mecânica orgânica, é deveras temerário. O que julgamos seja caridade, poderá redundar em fanatismo e obsessão para os crédulos, e em descrença para os mais céticos e mais esclarecidos. Mais do que nunca vamos precisar do dom do discernimento! Precisamos estar atentos às informações que chegam via "inspiração mediúnica".
Lembremo-nos do que Emmanuel disse ao Chico: “Se algum dia eu disser alguma coisa que contraria os conceitos de Jesus e Kardec, fique com eles e esquece-me.” Essa advertência é válida para todos os espíritas, principalmente para os que estão comprometidos com o esclarecimento público doutrinário.
Disse-me o espírito Aulus, certa vez: "Em se tratando de graves responsabilidades, os mornos serão tratados com maior rigor pelas leis divinas."
Neste século, o rio caudaloso de informações, continuará a descer dos céus passando por mentes brilhantes através dos canais da intuição. Porém, mais do que nunca teremos que nos tornar exímios garimpeiros, empunhando a peneira do bom senso para separarmos as jóias verdadeiras dos cascalhos que transbordam do imenso rio da imaginação e da vaidade humana, o qual corre paralelo ao cristalino rio da verdade.
(Publicado na revista Além da Vida - edição nº 8 e reproduzido com autorização do autor)
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