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domingo, 18 de dezembro de 2011

A negligência de uns, a dor de tantos


Crônica: A negligência de uns, a dor de tantos
Por racismoambiental, 11/12/2011 12:41

FOnte original:

http://racismoambiental.net.br/2011/12/blog-especial-a-dor-que-nao-sai-no-jornal/comment-page-1/#comment-6390

A todas as mães e crianças abandonadas pelo poder público e por nossa indiferença

Por José Carlos Costa


Imagine que você descubra-se grávida.

Você é pobre, mora em Buritizeiro-MG, a vida pouco lhe deu e sempre exigiu muito de você.

Em meio à alegria de, em pleno dezembro, dar à luz uma criança, sentindo dores e contrações, de madrugada arranjam um carro para levá-la ao hospital.

Aos solavancos (o momento exige pressa), o motorista pisa no acelerador e o carro avança pelas ruas esburacadas.

Mesmo acossada pelos trancos provocados pelos buracos das ruas, pelas contrações e dores, você pensa que todos os sacrifícios que lhe foram impostos ao longo desses nove meses terão valido a pena quando apertar o filho contra si, ofertando-lhe os seios fartos de leite. Nem a lembrança do pré-natal malfeito (raramente havia médico no posto do bairro) lhe tira o ânimo. Tudo vai dar certo, falta pouco, pensa você.
Feito o parto, imersa em dores, você ouve alguém dizer que a criança necessita de oxigênio. Percebe também uma voz, quase um sussurro: doutor, não temos oxigênio. Ouve a resposta nervosa do médico: esta criança tem de ser levada urgentemente para o hospital de Pirapora.

Horas mais tarde, alguém lhe diz: lamento, o seu filho está morto.

Agora, de volta para o seu barracão na periferia da cidade, num bairro triste e abandonado, segue você, coração e alma partidos, comprimindo contra o peito o filhinho morto.

No caminho, cruza com uma caminhonete prateada, com alegres passageiros entupidos de cerveja. Ao volante, um senhor sorri efusivamente e lhe acena com a mão… Ainda comemora a soberana decisão de um distante Tribunal de Justiça, mantendo-o no cargo de prefeito, ele que fora cassado pela Câmara. É dezembro, suas lágrimas molham o rosto do seu filho morto, e vagamente você se lembra desse senhor celebrando missas natalinas, rendendo graças ao nascimento de outro menino, Jesus, que veio ao mundo para que todos tivessem vida.

Alguém lhe diz: é o carro do prefeito.

Mais adiante, cruza com outro veículo oficial, recentemente comprado por 80 mil reais. Mais sorrisos, mais acenos de mão em direção ao carro em que você está.

Alguém lhe diz: é o carro do secretário de saúde e do diretor do hospital. Como parecem felizes!

Surge outro carro oficial, com passageiros igualmente felizes e que lhe acenam com as mãos.

Alguém lhe diz: é o carro da Câmara, levando vereadores, que têm o fraco prefeito sob o seu jugo, tornaram-no refém de seus caprichos e sede de poder.

Muito bem remunerados, todos estão muito felizes com a decisão dos desembargadores e provavelmente dirigem-se para uma casa ou sítio, onde a festa continuará sem hora para terminar.

O carro que leva você e o seu filho morto segue, agora já sem pressa, pelas ruas esburacadas. Com o corpo transpassado por punhais, você mal consegue pensar a qual político recorrerá para que lhe compre um caixão para o seu filho.



*Crônica baseada num fato real, ocorrido esta semana em Buritizeiro, Minas Gerais.

Um comentário:

ANALUZ disse...

Caramba, você conseguiu mexer comigo, dentro!!

será que a injustiça (humana ou não) terá mesmo razão de ser??

procuro a resposta a esta e muitas questões em Deus, e não sei que pensar! dizem que o sofrimento existe para evoluirmos, talvez algo que tenhamos feito em outrs vidas e vir resgatar aqui?!! não sei?!!

mas que, deveras dói, dói, e sei dói, e meus problemas fiqcam pequeninos??!!

bem hajas

abraço