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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Médium católico

Notícia saiu no jornal Dia.

De outro mundo

Lotando igrejas há 15 anos com um grupo que reza o Terço de forma
bastante incomum, ele conversa com os santos, os anjos e os mortos. E
hoje lança seu primeiro livro, “a pedido de Nossa Senhora”
POR BRUNO ASTUTO

Rio - À primeira vista, o carioca Pedro Siqueira, 39 anos, é um cara
normal. Torcedor (roxo) do Fluminense, formado pela PUC do Rio, dá
expediente todos os dias na Advocacia Geral da União e ministra aulas
de Direitos Administrativo e Processual Civil. Casado com outra
advogada, Natália, espera o primeiro filho, mora em Botafogo, gosta de
viajar e pratica jiu-jítsu nas horas vagas.

Tudo bem trivial não fosse Pedro o maior fenômeno da Igreja Católica
que o Rio já conheceu nos últimos tempos. Há 15 anos vem lotando
igrejas, — primeiro a Santa Mônica, no Leblon, hoje a Nossa Senhora da
Imaculada Conceição, na Gávea — todas as últimas terças-feiras do mês,
com seu grupo de oração do Terço, em que ora, lê passagens da Bíblia,
canta, toca violão e transmite cerca de 10 mensagens de santos, anjos
e mortos, os quais, conta, vê e escuta desde criança.

Quando começaram as suas visões?

Minha mãe relata que a primeira vez que ela viu que havia algo de
diferente foi quando eu, bebê, morri nos braços dela. Ela correu para
chamar uma vizinha, me levou ao hospital e, de repente, eu
ressuscitei. Lá em casa, as janelas batiam, a cama balançava, as
coisas mexiam. Daí comecei a ter as visões, as audições e as coisas
que falam dentro do meu peito. Às vezes, coisas muito ruins.

Esses fenômenos ainda continuam?

Teve um dia que começaram a aparecer tufos de cabelo pelo chão da
casa; em outro, no banheiro social, as paredes apareceram cheias de
fezes de morcego. Mas, no geral, não acontecem. De vez em quando,
aparecem pessoas no Terço dizendo que estão possuídas, mas não estão.

Os médicos descartaram qualquer possibilidade de um caso clínico?

Tudo: neurologista, psicólogos, psiquiatras. Disseram que não havia
nada clinicamente, que eu era uma pessoa normal, que não precisava de
remédios. Era atleta, competia na natação. Minha mãe, então, pensou:
‘vou ter que colocar um cabresto nesse menino’ e me proibia de falar,
para me proteger. Se meu filho também tiver o dom, eu agiria
diferente.

Como era na escola?

Eu ficava na minha, porque tinha que me enturmar. Naquela época, o
Santo Agostinho era só de meninos. Dentro da medida, eu tive uma vida
normal, fora as visões. Saía, namorava, ia a matinês, mas sempre
gostei mais dos esportes.

Você também vê mortos, mas a fé católica, de certa forma, proíbe a
comunicação com eles.

No episódio da Transfiguração, Jesus se comunica com Moisés, e os
apóstolos também o veem. Não existe nenhum dogma que proíba isso. O
Padre Pio, que foi santificado pelo Papa João Paulo II, conversava com
almas do Purgatório, por exemplo. Sou muito devoto dele.

Alguém na Igreja já lhe disse para parar?

Para parar não, mas, às vezes, vinha um padre pedindo que eu não desse
as mensagens, que eu não falasse de cura, acho que por medo de algo
que não está sob controle. Mas isso não está no controle de ninguém,
nem do meu. Por uma política de boa vizinhança, eu não faço muita
coisa que poderia fazer. Mas a Bíblia tem uma coisa muito interessante
que é a questão de não chocar seu próximo.

Como reagem as pessoas do seu trabalho, na Advocacia Geral da União?

Eu trabalho na Procuradoria Regional. As pessoas no início ficaram
chocadas, mas hoje se acostumaram, umas me pedem para rezar.

Suas visões o ajudam nos casos judiciais?

Não (risos). Nossa Senhora não me aparece, não se mete nisso. Acho que
são assuntos muito mundanos para Ela. Com o tempo, eu aprendi a
controlar o dom; no tribunal, por exemplo, não vejo nada.

Você tem medo de que as pessoas não acreditem em você?

Tem várias pessoas que não acreditam, várias. Até parentes meus, que
acham uma bobagem. Eu realmente não ligo. Nada acontece por acaso; eu
tenho uma missão a cumprir. Se Nossa Senhora escolheu essa missão para
mim, eu faço por Ela, por amor a Ela. Se eu não fizesse, eu seria
incompleto. Eu não posso me trancar e isolar do mundo como eu gostaria
e ficar somente vendo e meditando.

E você considera isso um dom ou um fardo?

Todo dom é pesado, porque ele te exige muito. Tem épocas em que eu
estou mais cansado, que eu não quero ir ao Terço, que sinto dores
terríveis pelo corpo, pela coluna, pelas pernas, nas mãos. No começo,
as reuniões eram semanais, agora são mensais, por causa do volume de
trabalho. Eu sei que algumas pessoas vão ao grupo me vendo como uma
atração de circo. Isso já me incomodou, mas hoje entendo que é um
gancho que Nossa Senhora usou para divulgar o Terço.

Por que você tem esse dom e não eu, só para dar um exemplo?

Também gostaria de saber, mas todo dom passa pela individualidade. Na
verdade,eu sou um homem das cavernas. Sou um cara cheio de manias, sou
travado, não sou moderno, gosto de futebol, de lutar, não gosto de
publicidade nem de aparecer. Mas entendo que seja necessário para
divulgar o livro, que me foi pedido por Nossa Senhora numa
peregrinação a Fátima. Eu não sou padre, não doutrino ninguém, só
quero rezar o Terço. A mensagem do livro é que as pessoas têm que
recuperar sua fé, porque sempre tem um momento na vida em que dinheiro
e beleza não resolvem nada.

É verdade que o telefone só toca de lá para cá, como disse Chico Xavier?

É verdade. Não adianta a pessoa me procurar e pedir para falar com
alguém. As pessoas precisam aprender a rezar por elas, pelo próximo,
pelo irmão, pelo mundo e a não precisarem de mim para rezar. Eu saio
com muitos pedidos de oração, mas seria melhor que a própria pessoa
fizesse isso.

Você se considera o Chico Xavier dos católicos?

Nunca. Ele era um homem santo, puro, puríssimo.

Você disse que vê também espíritos maus. Quer dizer que eles existem?

Vejo, sim, e claro que existem, assim como existem pessoas boas e más.

E quanto ao assassinato das crianças de Realengo, que chocou o País?

Ele não estava possuído; era uma pessoa doente que não foi tratada. Ao
que me parece, pela leitura da carta e pelo histórico, ele estava em
surto. Tenho visto no grupo várias pessoas com problemas psicóticos,
esquizofrênicos, depressivos que não são tratadas e atribuem seus
problemas a uma natureza espiritual. O assassino, sem dúvida, terá que
cumprir uma pena, mas sua perturbação mental será levada em conta.
Temos também que orar por ele, porque Deus ama todos os Seus filhos.

Como uma mãe de Realengo pode ter fé depois de uma tragédia como essa?

Uma tragédia como essa significa que Deus ruiu a casa dela inteira
para que tudo recomece do zero, com Ele. Porque isso aqui é passagem,
nós estamos em trânsito. No início pode haver revolta, mas é preciso
ter fé, porque a verdade está do outro lado.

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