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sábado, 13 de outubro de 2007



Como diria Moacir Scliar, a batalha final, (se alguma batalha final houver, fujamos das escatologias) não será entre cristãos e muçulmanos, nem entre petistas e tucanos. A batalha final há de ser entre éticos e não-éticos, independentemente de crenças, partidos e ideologias.

terça-feira, 9 de outubro de 2007


A teoria da Caverna
Platão, República, Livro VII, 514a-517c



Depois disto – prossegui eu – imagina a nossa natureza, relativamente à educação ou à sua falta, de acordo com a seguinte experiência. Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Estão lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado permanecer no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de voltar a cabeça, por causa dos grilhões; serve-lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe, numa eminência, por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro, no género dos tapumes que os homens dos "robertos" colocam diante do público, para mostrarem as suas habilidades por cima deles. – Estou a ver – disse ele.
– Visiona também ao longo deste muro, homens que transportam toda a espécie de objectos, que o ultrapassam: estatuetas de homens e de animais, de pedra e de madeira, de toda a espécie de lavor; como é natural, dos que os transportam, uns falam, outros seguem calados.
– Estranho quadro e estranhos prisioneiros são esses de que tu falas – observou ele.
– Semelhantes a nós – continuei -. Em primeiro lugar, pensas que, nestas condições, eles tenham visto, de si mesmo e dos outros, algo mais que as sombras projectadas pelo fogo na parede oposta da caverna?
– Como não – respondeu ele –, se são forçados a manter a cabeça imóvel toda a vida?
– E os objectos transportados? Não se passa o mesmo com eles ?
– Sem dúvida.
– Então, se eles fossem capazes de conversar uns com os outros, não te parece que eles julgariam estar a nomear objectos reais, quando designavam o que viam?
– É forçoso.
– E se a prisão tivesse também um eco na parede do fundo? Quando algum dos transeuntes falasse, não te parece que eles não julgariam outra coisa, senão que era a voz da sombra que passava?
– Por Zeus, que sim!
– De qualquer modo – afirmei – pessoas nessas condições não pensavam que a realidade fosse senão a sombra dos objectos.
– É absolutamente forçoso – disse ele.
– Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das cadeias e curados da sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as coisas se passavam deste modo. Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, ao fazer tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objectos cujas sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objectos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objectos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldades e suporia que os objectos vistos outrora eram mais reais do que os que agora lhe mostravam?
– Muito mais – afirmou.
– Portanto, se alguém o forçasse a olhar para a própria luz, doer-lhe-iam os olhos e voltar-se-ia, para buscar refúgio junto dos objectos para os quais podia olhar, e julgaria ainda que estes eram na verdade mais nítidos do que os que lhe mostravam?
– Seria assim – disse ele.
– E se o arrancassem dali à força e o fizessem subir o caminho rude e íngreme, e não o deixassem fugir antes de o arrastarem até à luz do Sol, não seria natural que ele se doesse e agastasse, por ser assim arrastado, e, depois de chegar à luz, com os olhos deslumbrados, nem sequer pudesse ver nada daquilo que agora dizemos serem os verdadeiros objectos?
– Não poderia, de facto, pelo menos de repente.
– Precisava de se habituar, julgo eu, se quisesse ver o mundo superior. Em primeiro lugar, olharia mais facilmente para as sombras, depois disso, para as imagens dos homens e dos outros objectos, reflectidas na água, e, por último, para os próprios objectos. A partir de então, seria capaz de contemplar o que há no céu, e o próprio céu, durante a noite, olhando para a luz das estrelas e da Lua, mais facilmente do que se fosse o Sol e o seu brilho de dia.
– Pois não!
– Finalmente, julgo eu, seria capaz de olhar para o Sol e de o contemplar, não já a sua imagem na água ou em qualquer sítio, mas a ele mesmo, no seu lugar.
– Necessariamente.
– Depois já compreenderia, acerca do Sol, que é ele que causa as estações e os anos e que tudo dirige no mundo visível, e que é o responsável por tudo aquilo de que eles viam um arremedo.
– É evidente que depois chegaria a essas conclusões.
– E então? Quando ele se lembrasse da sua primitiva habitação, e do saber que lá possuía, dos seus companheiros de prisão desse tempo, não crês que ele se regozijaria com a mudança e deploraria os outros?
– Com certeza.
– E as honras e elogios, se alguns tinham então entre si, ou prémios para o que distinguisse com mais agudeza os objectos que passavam e se lembrasse melhor quais os que costumavam passar em primeiro lugar e quais em último, ou os que seguiam juntos, e àquele que dentre eles fosse mais hábil em predizer o que ia acontecer – parece-te que ele teria saudades ou inveja das honrarias e poder que havia entre eles, ou que experimentaria os mesmos sentimentos que em Homero, e seria seu intenso desejo "servir junto de um homem pobre, como servo da gleba", e antes sofrer tudo do que regressar àquelas ilusões e viver daquele modo?
– Suponho que seria assim – respondeu – que ele sofreria tudo, de preferência a viver daquela maneira.
– Imagina ainda o seguinte – prossegui eu -. Se um homem nessas condições descesse de novo para o seu antigo posto, não teria os olhos cheios de trevas, ao regressar subitamente da luz do Sol?
– Com certeza.
– E se lhe fosse necessário julgar daquelas sombras em competição com os que tinham estado sempre prisioneiros, no período em que ainda estava ofuscado, antes de adaptar a vista – e o tempo de se habituar não seria pouco – acaso não causaria o riso, e não diriam dele que, por ter subido ao mundo superior, estragara a vista, e que não valia a pena tentar a ascensão ? E a quem tentasse soltá-los e conduzi-los até cima, se pudessem agarrá-lo e matá-lo, não o matariam ?
– Matariam, sem dúvida – confirmou ele.
– Meu caro Gláucon, este quadro – prossegui eu – deve agora aplicar-se a tudo quanto dissemos anteriormente, comparando o mundo visível através dos olhos à caverna da prisão, e a luz da fogueira que lá existia à força do Sol. Quanto à subida ao mundo superior e à visão do que lá se encontra, se a tomares como a ascensão da alma ao mundo inteligível, não iludirás a minha expectativa, já que é teu desejo conhecê-la. O Deus sabe se ela é verdadeira. Pois, segundo entendo, no limite do cognoscível é que se avista, a custo, a ideia do Bem; e, uma vez avistada, compreende-se que ela é para todos a causa de quanto há de justo e belo; que, no mundo visível, foi ela que criou a luz, da qual é senhora; e que, no mundo inteligível, é ela a senhora da verdade e da inteligência, e que é preciso vê-la para se ser sensato na vida particular e pública.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Frase

"Faça ou não faça. Não existe 'tentar'."

Yoda, mestre jedi (há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante)

tempo


E passou-se 39 anos...

como foi?

Não me vi como todo,mas fracionado em partes: segundos, minutos e dias.

zen


Zen
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Dosho Saikawa Roshi da Escola Soto Zen, localizado na cidade de São Paulo.Zen é o nome

japonês de um ramo do Budismo Mahayana, praticado sobretudo na China, Japão, Vietnam e

Coréia. A prática básica do Zen é o Zazen, um tipo de meditação contemplativa que visa a

levar o praticante à "experiência direta da realidade".

No Zen japonês há duas vertentes principais: Soto e Rinzai. Enquanto a escola Soto dá maior

ênfase à meditação silenciosa, a escola Rinzai faz amplo uso dos koans. Atualmente, o Zen é

uma das escolas budistas mais conhecidas e de maior expansão no Ocidente.

Como todas as escolas budistas, o Zen remete suas raízes ao budismo indiano. A palavra zen

vem do termo sânscrito dhyana, que denota o estado de concentração típico da prática

meditativa. Na China, esse termo foi transliterado como channa, e logo reduzido à sua forma

mais curta, chan (禪). Daí para o coreano como sŏn (선), e finalmente para o japonês como zen.

Segundo os relatos tradicionais, o estilo de prática Zen foi levado da Índia à China pelo

monge indiano Bodhidharma (em japonês, Daruma), por volta do ano 520 d.C. Embora a

historicidade desse relato tenha sido colocada em dúvida por estudiosos modernos, a história

(ou lenda) de Bodhidharma é a metáfora fundamental do Zen sobre o cerne de sua prática.

Segundo conta o Registro da Transmissão da Lâmpada, um dos mais antigos textos do Zen,

Bodhidharma chegou à China pelo território da Dinastia Liang e, devido à sua fama de sábio,

foi imediatamente convocado à corte do famoso Imperador Wu. O imperador, que havia apoiado

enormemente o budismo na China, perguntou a Bodhidharma sobre o mérito que havia ganhado por

apoiar o budismo, esperando que esse mérito lhe garantisse uma boa vida em sua encarnação

seguinte. Bodhidharma, porém, respondeu: "Nenhum mérito". O imperador, enraivecido,

perguntou então: "Quem é esse que está diante de mim?" (em linguagem atual, algo como "Quem

você pensa que é?") Bodhidharma respondeu: "Não sei". Aturdido, o imperador concluiu que

Bodhidharma devia ser louco, e o expulsou da corte. Outras pessoas, porém, ficaram

intrigadas com sua resposta e o seguiram até a caverna aonde ele havia ido viver. Lá, se

tornaram seus discípulos, e descobriram que Bodhidharma era o herdeiro espiritual de

Mahakashyapa, um dos grandes discípulos de Buda.

De acordo com os ensinamentos tradicionais, Bodhidharma não sabia responder porque sua

verdadeira natureza, assim como a verdadeira natureza de todas as coisas, estava além do

conhecimento discursivo, de definições e de palavras. É a esta experiência direta da

realidade que aspira o Zen.

Mahakashyapa, de quem Bodhidharma era herdeiro espiritual e sucessor, havia ele mesmo tido

essa experiência, e se iluminado. Segundos os sutras, Mahakashyapa foi o único discípulo de

Buda a compreender seu Discurso do Lótus, em que Buda, sem dizer nada, apenas levantou uma

flor. Era a realidade imediata, além das palavras.

Depois de treinar seus discípulos por muitos anos, Bodhidharma morreu, deixando seu aluno

Huike (em japonês, Daiso Eka) como sucessor. Huike foi o Segundo Patriarca do Zen, e também

deixou uma linha de sucessão da qual pouco se sabe, até chegar a Huineng (em japonês, Daikan

Eno, 638-713), o Sexto e último Patriarca. Huineng, um dos maiores mestres da história do

Zen, participou de uma famosa disputa quando sucedeu seu mestre: um grupo de monges

recusava-se a aceitá-lo como patriarca, e propunha outro praticante, Shenxiu, em seu lugar.

Sob ameaças, Huineng foi obrigado a fugir para um templo no sul da China; no final, apoiado

pela maioria dos monges, foi reconhecido como patriarca.

Algumas décadas depois, porém, a contenda foi ressucitada. Um grupo de monges, dizendo-se

sucessor de Shenxiu, enfrentou um outro grupo, a Escola do Sul, que se apresentava como

sucessora de Huineng. Depois de debates acalorados, a Escola do Sul acabou prevalecendo, e

seus rivais desapareceram. Os registros dessa disputa são os mais antigos documentos

históricos fiéis sobre a escola Zen de que dispomos hoje.

Mais tarde, monges coreanos foram à China para estudar as práticas da escola de Bodhidharma.

Quando chegaram, o que encontraram foi uma escola que já havia desenvolvido identidade

própria, com fortes influências do Taoísmo, e que já era conhecida pelo nome Chan. Com o

tempo, o Chan acabou se estabelecendo na Coréia, onde recebeu o nome Seon.

Da mesma forma, monges chegavam de outros países da Ásia para estudar o Chan, e a escola foi

se espalhando pelos países vizinhos. No Vietnã, recebeu o nome Thien, e, no Japão, ficou

conhecida como Zen. Através da história, essas escolas cresceram de maneira independente,

tendo desenvolvido identidades próprias e características bastante diferentes umas das

outras.

[editar] Zazen
Para o Zen, experimentar a realidade diretamente é experimentar o nirvana. Para experimentar

a realidade diretamente, é preciso desapegar-se de palavras, conceitos e discursos. E, para

desapegar-se disso, é preciso meditar. Por isso, o zazen ("meditação sentada") é a prática

fundamental do Zen.

Ao meditar, o praticante senta-se sobre uma pequena almofada redonda (o zafu) e assume a

postura de lótus, a postura de meio lótus, a postura burmanesa ou a postura de seiza. Unindo

as mãos um pouco abaixo do umbigo (fazendo o mudra cósmico), ele semicerra suas pálpebras,

pousando a vista cerca de um metro à sua frente. Na escola Rinzai, os praticantes sentam-se

virados para o centro da sala. Na escola Soto, sentam-se virados para a parede.

Então o praticante "segue sua respiração", contando cada ciclo de inspiração e expiração,

até chegar a dez. Então o ciclo recomeça. Enquanto isso, sua única tarefa é manter uma mente

relaxada, aberta, concentrada mas sem tensão, e estar presente no "agora" do momento, sem se

deixar levar por pensamentos ou ruminações. Quando isso acontece, ele volta a se concentrar

na contagem. Os praticantes mais experientes, cujo poder de concentração (samadhi) é maior,

podem abster-se de contar ou seguir sua respiração. Fazendo assim, eles estarão praticando o

tipo de zazen chamado shikantaza, "apenas sentar-se".

A duração de um período de meditação varia de acordo com a escola. Embora o período

tradicional de meditação seja o tempo que uma vareta de incenso leva para queimar (de 35 a

40 minutos), escolas como a Sanbo Kyodan recomendam a seus alunos que não meditem por mais

de 25 minutos por vez, pois a meditação pode tornar-se inerte. Na maioria das escolas,

porém, os monges rotineiramente meditam entre quatro e seis períodos de 30-40 minutos todos

os dias. Quanto a leigos, o mestre Dogen dizia que cinco minutos diários já eram benéficos

-- o que importa é a constância.

Durante os retiros (sesshins) mensais, porém, as atividades são intensificadas. Com duração

de um, três, cinco ou sete dias, a rotina dos retiros prevê de nove a 12 períodos de 30-40

minutos por dia, ou até mais. Entre cada período de zazen, os praticantes "descansam"

fazendo kinhin (meditação andando).

nuvens








Nuvens
Vão as nuvens
As imagens que eu guardei pra mim
Nuvens claras
Sentimentos
Transparentes ondas de emoção

Ondas
Som das ondas
Carruagens pelo mar sem fim
São viagens, são momentos
Que passaram e que não passarão

Tudo que faz o amor valer
Faço virar canção
Se você nem quiser me ver
Faço você cantar

Fontes
São teus olhos
Diamantes que eu sonhei pra mim
Mas são nuvens
Vão no vento
Diferentes os nomes da paixão

Nomes
De pessoas, de lugares
Nas esquinas dos amores vãos
Vão ciganos, nuvens claras
Que passaram e que não passarão

Tudo que faz o amor valer
Faço virar canção
Se você nem quiser me ver
Faço você cantar

Composição: Flávio Venturini / Ronaldo Bastos

terça-feira, 25 de setembro de 2007

1977


Todos os dias quando acordo de manhã
Não tenho mais o tempo do dia que passou
Mas tenho muito tempo
Para acabar com essa indecisão
Espero sinceridade e perigo

Todos os dias tento chegar em algum lugar
Só pra depois dizer que não quero ficar lá
Não é coincidência
Essa minha indiferença
É que está me faltando motivo
Responsabilidade me deixa sem saber
Qual é a interferência
Ou como deve ser

Todos os dias quando eu peito pra dormir
Fico pensando em todas as coisas que eu não fiz
Quando penso no futuro
Sempre com uma leve preocupação
Se não lembrar qual foi o aviso

Todos os dias quando eu tento esquecer
Todas as coisas que eu não quero mais fazer
É só inconsequência
O tempo continua com ou sem ação
E eu não consigo ficar indeciso
Pontos de referência
Perdi meu referencial
E quase como sempre não foi proposital

1977
quero ficar na cidade ou não
Começaram a brincar com Eletricidade
Quero ficar na cidade ou não

1977
Quero ficar na cidade ou não
Começaram a brincar com eletricidade
Quero ficar na cidade ou não


Autor: Renato Russo

condicionamentos e limitações


A Águia Dourada


Um homem encontrou um ovo de águia e o colocou debaixo da galinha que chocava seus ovos no quintal.

Nasceu uma aguiazinha com os pintos e com eles crescia normalmente.

Durante todo o tempo a águia fazia o mesmo que faziam os pintinhos, convencida de que era igual a eles.

Ciscava, ia ao chão buscando insetos e pipilava como fazem os pintos, e como eles, também batia as asas conseguindo voar um metro ou dois porque, afinal de contas, é só isso que um frango pode voar, não é verdade?

Passam anos e a águia ficou velha...

Certo dia, ela viu, riscando o espaço, num céu azul, uma ave majestosa, planando, no infinito, graciosa, levada, docemente, pelo vento sem nem sequer bater a asa dourada.

A águia do chão olhou-a com respeito e logo, perguntou ao seu amigo:

"Que tipo de ave é aquela que lá vai"?

"É uma águia! É rainha", diz-lhe o amigo, mas é bom não olhar muito para ela pois nós somos de raça diferente, simples frangos do chão e nada mais.

Daí por diante, então, a pobre da águia nunca mais pensou nisso, até morrer convencida de ser uma simples galinha.

Autoria de Anthony de Mello

Reencarnação, por quê?


Reencarnação, por quê?



A reencarnação provém de dois atributos básicos de Deus, sem os quais, no nosso entendimento, Ele não seria Deus: justiça e misericórdia infinitas.

Acreditando-se que tais atributos são intrínsecos à Deus, torna-se sobremaneira impossível conceber-se a idéia de um inferno temporalmente infinito a um indivíduo, no qual estarão as almas que aqui viveram de forma errada, enganosa, materialista, etc, sem quaisquer chances de arrependimento. Tais almas, uma vez adentradas no inferno, não poderiam ser alcançadas pela misericórdia divina. Mesmo arrependendo-se, não mais seriam ouvidas por Deus por todo o sempre. É fácil perceber o grave conflito entre esse conceito de inferno e os dois atributos divinos citados acima, uma vez que, de forma óbvia, sua existência estabelece um termo à misericórdia de Deus.

A reencarnação é uma segunda chance que Deus nos concede para tentarmos evoluir moralmente como seres humanos, sendo esse o real objetivo dela: a evolução do espírito. "Receber um corpo, nas concessões do reencarnacionismo, não é ganhar um barco para nova aventura, ao acaso das circunstâncias, mas significa responsabilidade definida nos serviços de aprendizagem, elevação ou reparação, nos esforços evolutivos ou redentores". (1) Deus não quer que nenhum dos seus filhos se perca e sua infinita misericórdia estará sempre nos tocando com sua divina benção.
A reencarnação vem ainda a corrigir possíveis injustiças. Quantas pessoas passam por sérias dificuldades em suas vidas? Miséria, vivendo ao lado do crime e tendo os filhos passando fome, enquanto outras possuem totais condições de desenvolvimento moral junto a suas famílias tão bem estabelecidas?

Um caso interessante: quantos povos viveram em níveis bárbaros e antropófagos na história da humanidade? Será que se nossa alma, assim que fosse criada, encarnasse em um corpo e vivesse junto a esse povo não seríamos também antropófagos?
Por isso deveríamos ir para o inferno, logicamente?
Ou iríamos para o paraíso eterno? (Mas como, se fomos canibais??)
Pode-se argumentar que Deus perdoar-nos-ia por não sabermos que tal prática era errada, afinal nascemos ali e convivemos desde cedo com aquilo. Mas então isso quer dizer que, por viver na ignorância, estaríamos livres para fazer o que quiséssemos e ainda assim sermos premiados com o paraíso eterno? Seria uma grande demonstração de misericórdia, realmente, por parte de Deus, mas ao mesmo tempo também de injustiça. Isso não seria justo para com aqueles que conheceram as leis do amor a Deus e ao próximo. Aos primeiros o paraíso, não importando o que fizeram, devido a sua ignorância; aos últimos, somente se conseguissem manter-se no caminho correto, passando pela porta estreita (Mateus 7:13)? Em qualquer hipótese, não há como haver justiça igualitária a todos nesse caso se não pensarmos na reencarnação. Nas duas possibilidades estaria havendo um tratamento preferencial de Deus para com um povo ou outro: seja dando a possibilidade do paraíso apenas àqueles que possuíssem o conhecimento das leis morais divinas e as praticassem, relegando os ignorantes e bárbaros ao inferno eterno; seja dando aos ignorantes e bárbaros de qualquer forma o paraíso, face à sua ignorância, devendo os outros, para chegarem à felicidade eterna, seguir todo um caráter moral de convivência com o próximo.

Outro caso interessante: o que ocorre com a criança que morre ainda em tenra idade? Imaginemos que tal criança deixe essa vida apenas alguns dias após seu nascimento. Deveria ela ir para o céu ou para o inferno?
Lógico é pensarmos que não irá para o inferno, pois sua alma, acabando de ser criada e vivendo encarnada por apenas alguns dias, não haverá cometido pecado algum. Então pensamos: deverá certamente ir para o paraíso eterno. Se assim o é, tal alma fora escolhida por Deus para ser salva. Não foi submetida a nenhum sofrimento que qualquer ser humano enfrenta em sua vida, tendo que ser forte para suportá-los sem desviar-se do bom caminho. Concebemos como justo e correto um pai que, a um filho, dá todas as condições de desenvolvimento: carinho, amor, suporte material, etc; e a outro despreza e humilha, sempre relegando-o a um plano inferior? Se um homem que assim agisse seria obviamente considerado injusto e sem caráter, como Deus poderia proceder desse modo? Deus não escolhe almas e as salva previamente. Deus não quer mais a você do que a alguém de um povo bárbaro que viveu há milhares de anos atrás, nem quer mais a uma criança que desencarna com alguns dias de vida do que você, que está aqui, suportando alguns sofrimentos dessa vida. Somos todos filhos Dele e Ele quer nosso bem igualmente.

O que dizer então nesses casos?
Devemos pensar que a real vida é a do espírito. O corpo morre e volta ao pó, a alma continua eternamente. Seria melhor ter vivido com o povo bárbaro em um tempo longínquo, tendo a salvação eterna garantida pela ignorância, ou viver agora, com todas as responsabilidades que o conhecimento que possuímos trás? Sabemos o quanto é difícil nos mantermos no caminho correto, com tantas dificuldades, tentações e violências do mundo atual...

A reencarnação é o produto da misericórdia infinita de Deus aliada a sua justiça suprema! Não se trata de um castigo, como muitos pensam, mas de uma segunda chance, como colocado no início. Uma chance que nos é concedida para que possamos sempre evoluir até atingirmos a perfeição que nossa natureza humana comporta. Aliado a isso, a reencarnação ainda corrige as injustiças, dando iguais possibilidades a todos. É como em uma escola: se um aluno é reprovado, ele não é expulso, mas ganha uma nova chance no ano seguinte, sempre podendo contar com a assistência de seus professores.

Anjo de Luz




ANJO DE LUZ


E como um ser de forte claridade,
Anjo de luz do sacrossanto empíreo,
Eu sentia nas asas do delírio
A dimensão da grande liberdade.

Passava nos lugares rotineiros
Colhendo todo mundo em meu abraço,
Confundindo noções de tempo e espaço,
Embaralhando fatos verdadeiros.

Ia nos quatro pontos cardeais.
Andava sobre a linha do equador.
Via o céu de manhã mudar de cor.
Percorria os espaços siderais.

Ia mais longe do que qualquer nave.
Voava mais depressa do que a luz.
Entendia as palavras de Jesus
Como uma criancinha entende uma ave.

Achincalhava todas as mentiras.
Todos os fariseus desmascarava.
Os ídolos do hipócrita quebrava.
A roupa do impostor deixava em tiras.

E como um ser de etérea realeza,
Adornado de estrelas e de luas,
Saía a percorrer todas as ruas
À procura da forma da beleza.

E encerrava meu curso luminoso
Num lugar pelos homens habitado,
Onde era pelos guardas algemado
E preso como um louco furioso.

POEMA DE AFFONSO MANTA

Pense com Foucault


"Quais tipos de saber vocês querem desqualificar no momento em que vocês dizem ser esse saber uma ciência? Qual sujeito falante, qual sujeito discorrente, qual sujeito de experiência e de saber vocês querem minimizar quando dizem: eu, que faço esse discurso, faço um discurso científico e sou cientista?"


FOUCAULT, Michel. Em Defesa da Sociedade: Curso no Collège de France. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p.15.

Leminski- Contranarciso


contranarciso
em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas

o outro
que há em mim
é você
você
e você

assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós

Leminski

Tibet


O primeiro pesquisador europeu sobre língua tibetana, o húngaro Csoma de Körös, viajou
extensivamente ao Ladakh no início do século XIX antes de produzir seu pioneiro dicionário e resumo de literatura tibetana em 1834. O monge zen-buddhista japonês Ekai Kawaguchi submeteu-se a uma privação extraordinária até, disfarçado de chinês, chegar a Lhasa em 1901, onde a profundidade de seus estudos lingüísticos permitiu que entrasse em uma das grandes universidades monásticas. Ele retornou ao Japão com uma extraordinária coleção de textos.
Alexandra David-Neel, a exploradora buddhista francesa, disfarçada como a mãe de seu lama, teve sucesso em chegar a Lhasa no início do século XX, uma época em que outros exploradores frustraram-se em suas tentativas de chegar à capital. Seus registros de primeira mão sobre as yogas psicofísicas dos monges meditadores fascinaram os pesquisadores sobre o Tibet desde então. Poucos tiveram esses contados próximos com os yogis. E não devemos esquecer Sir Francis Younghunsband, cuja filosofia idiossincrática, prefigurando de modos modos os interesses espirituais contemporâneos, deve muito a experiências pessoais no Tibet.
(John Crook, The Yogins of Ladakh)

Até a invasão chinesa de 1950, pensava-se no Tibet basicamente como um Shangri-Lá, a terra mágica de sabedoria milenar e beleza inacessível, onde os estrangeiros raramente tinham permissão para entrar. Um dos primeiros livros sobre este assunto, que foi campeão de vendagem no mundo inteiro, foi o romance de aventuras de James Hilton, Horizonte Perdido, publicado em 1933, sobre um mosteiro no Tibet. A capital do Tibet, Lhassa, o lar do Dalai Lama, a três mil metros de altitude, envolta em mito e protegida pelos picos nevados do Himalaia, foi muitas vezes chamada de "Cidade Proibida". Isolado e fechado, o Tibet não mudava havia séculos, e o progresso tecnológico e a modernização enfrentaram sempre aí forte resistência. O país nunca passou por uma idade da razão ou de desenvolvimento científico.
Existe uma tendência compreensível em romantizar aquele Tibet que existiu antes da violenta invasão chinesa. Entretanto, é um erro pensar que o Tibet era um Shangri-Lá, onde todos eram iluminados, felizes, vegetarianos e não-violentos. Apesar do Tibet provavelmente dispor da "mais sofisticada tecnologia espiritual e da melhor compreensão das ciências interiores", não podemos fingir que era uma sociedade perfeita. Ainda tinha um longo caminho a percorrer.
Antes de trazer para o cotidiano aquilo que parecia dominar no mundo espiritual. Na verdade, quando examinamos o Tibet com atenção, através de uma visão racional e humanista, temos que admitir que era uma teocracia medieval, onde a democracia, a alfabetização e os modernos avanços da medicina ainda não haviam chegado. O que importa hoje é extrair o ouro do minério do Himalaia — encontrar a essência dos ensinamentos da sabedoria imutável nas encostas pedregosas da cultura asiática, da teologia e da anacrônica cosmologia.
Antes da invasão chinesa, uma vida espiritual de devoção e uma vocação monástica eram
consideradas uma profissão viável. Um terço da população masculina do Tibet habitava os milhares de mosteiros espalhados pelo país; os mosteiros femininos, repletos de mulheres, também eram numerosos. Até recentemente, as únicas rodas em uso no Tibet eram as rodas de oração, as quais, juntamente com os rosários de contas chamados malas, estavam sempre nas mãos de todos, transformando qualquer atividade, assim como a vida das pessoas, em uma prece contínua.
Por volta de 1920, o predecessor do atual Dalai Lama (o presciente Décimo Terceiro Dalai Lama) fez previsões sinistras sobre os planos chineses para conquistar o Tibet e reprimir a prática do buddhismo. Mas os tibetanos, mais preocupados em manter as coisas como estavam do que em evoluir para os tempos modernos, ignoraram as advertências. Quando as Nações Unidas foram formadas depois da Segunda Guerra Mundial, o Tibet escolheu não fazer parte, e pagou muito caro por esta escolha retrógrada.
Em 1950, quando a China entrou no Tibet, alguns lamas, monges e leigos tiveram a boa idéia de fugir do país. Afortunadamente, alguns deles carregaram consigo antigos objetos sagrados e escrituras. A maior parte dos tibetanos, entretanto, ficou lá. Apesar do jovem Dalai Lama temer o pior, por nove longos anos ele ficou em Lhassa, tentando em vão chegar a algum tipo de acordo com o governo chinês.
Então, em 1959, a tensão e a insegurança que pairavam sobre a vida dos tibetanos se
acumularam, originando uma revolta na província oriental de Kham, que chegou até Lhassa. O Dalai Lama foi alertado quando o governo comunista chinês o convidou para assistir a um espetáculo teatral mas não permitiu que levasse seu guarda-costas nem os assistentes.
Preocupados com a segurança de seu líder, milhares de tibetanos cercaram o palácio. Quando a luta começou, o Dalai Lama, vestido como um camponês, saiu do palácio na escuridão e começou a difícil e perigosa jornada, em lombo de burro e a pé, através das montanhas, para fora do Tibet e para o asilo político na Índia. Sem saber que o Dalai Lama havia partido, o exército chinês disparou seus canhões contra o palácio no dia seguinte à sua partida, e milhares de tibetanos civis e desarmados morreram.
Quando os chineses rapidamente tomaram os mosteiros e reprimiram a prática do buddhismo, muitos outros lamas e monges também empreenderam a difícil fuga de sua terra natal. Cerca de cem mil tibetanos conseguiram fugir antes de os chineses fecharem as fronteiras, mas muitos daqueles que iniciaram a jornada desapareceram no Himalaia sem deixar vestígios. Para os que ficaram, a vida tomou-se dura e cruel. Monjas, monges e lamas, além de leigos, foram torturados e assassinados. A Anistia Internacional calcula que cerca de um mi1hão e duzentos mil tibetanos tenham sido mortos pelo exército chinês, e muitos ainda permanecem em campos de prisioneiros no nordeste do Tíbete. Dos irnimeros mosteiros antigos que no passado adornavam o árido platô himalaio, apenas duas dúzias ainda permanecem, deixados de pé pelos chineses apenas para exibição.
Os lamas e monges que escaparam precisavam encontrar novos lares. Muitos, como o Dalai Lama, que agora tem sua casa em Dharamsala, na Índia, se estabeleceram em regiões vizinhas ou nos países próximos, como Índia, Nepal, Sikkim, Ladakh e Butão. Outros viajaram para bem longe, terminando na França, na Suíça, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Esses mestres também se lembraram das instruções do Buddha aos primeiros sessenta discípulos iluminados, para continuar a espalhar os ensinamentos: "Vão para o mundo, oh monges, para o bem de muitos,
para a felicidade de muitos, por compaixão do mundo."
Com a invasão chinesa do Tibet, foi como se uma represa houvesse arrebentado: de repente a sabedoria tibetana começou a fluir livremente do teto do mundo em direção ao Ocidente. Monges e monjas, lamas e mestres que nunca haviam deixado seus mosteiros de clausura e suas ermidas isoladas tiveram que enfrentar um novo mundo — cheio de homens e mulheres ansiosos para aprender sobre o Dharma. Os mestres tibetanos dizem que se houve um bem emanado da invasão chinesa, este bem foi a disseminação dos ensinamentos para tantos alunos novos.
(Lama Surya Das, O Despertar do Buda Interior)

Caminhos







Caminho do Sertão


Tão longe a casa! Nem sequer alcanço
Vê-la através da mata. Nos caminhos
A sombra desce; e, sem achar descanso,
Vamos nós dois, meu pobre irmão, sozinhos!
É noite já. Como em feliz remanso,
Dormem as aves nos pequenos ninhos ...
Vamos mais devagar ... de manso e manso,
Para não assustar os passarinhos.
Brilham estrelas. Todo o céu parece
Rezar de joelhos a chorosa prece
Que a noite ensina ao desespero e à dor ...
Ao longe, a Lua vem dourando a treva ...
Turíbulo imenso para Deus eleva
O incenso agreste da jurema em flor.


Auta de Souza