Acredito firmemente que há vida após a morte. Isso, porém, não passa de uma crença, mesmo que justificada por um conjunto de outras crenças e sustentada em outras firmes convicções. Há, no entanto, os que não creem em vida pós-morte e pensam que a morte é o fim absoluto. Estes também sustentam nada mais que uma crença, sustentada em outras crenças e algumas convicções. Não há elemento racional e objetivo que defina a questão a favor de uma ou outra crença, pois não há relação possível entre nosso conhecimento e a realidade pós-morte. Trata-se, por princípio, de uma questão irrespondível e inalcançável no plano racional. Qualquer discussão a esse respeito é um confronto entre crenças.
Contudo, sob o aspecto pragmático, a crença na vida após a morte pode apresentar algumas vantagens. Ajuda a afastar o medo do fim absoluto, contribui para a coragem da entrega a uma causa que possa lhe custara vida, proporciona a superação do caráter trágico e lúgubre da própria morte ou a de pessoas próximas e pode dar à vida um sentido mais transcendente. Por que razão eu abriria mão de uma crença vantajosa por uma que não a supera em termos de objetividade e racionalidade?
Além disso, a crença na vida após a morte é a única que pode ser confirmada no nosso futuro individual. A crença no fim absoluto, por princípio, só pode vir a ser frustrada. Pois, se creio que há vida pós-morte e ela realmente existir, confirmarei minha crença; caso contrário, não existirei para ser frustrado. De modo reverso, se não creio e ela, porém, existe, serei frustrado em minha crença no dia da morte; se estiver certo, não existirei mais para saber que estava certo.
Assim, penso que, em minha vida pessoal, essa é uma crença que não vale a pena submeter a dúvidas.